25 de abril de 2024
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Eduardo Campos nega querer Presidência e reafirma apoio a Dilma

ELEONORA DE LUCENA
ENVIADA ESPECIAL AO RECIFE/ Folha de São Paulo

Neto do revolucionário Miguel Arraes (1916-2005), o governador Eduardo Campos (PSB-PE) tem um discurso calculado e conciliador. Aos 45 anos, preside o Partido Socialista Brasileiro, o que mais cresceu nas últimas eleições. Reeleito com 83% dos votos, ele agora está nos comerciais do partido em rede nacional.

Diz que não está em campanha para a presidência. Promete que apoiará Dilma em 2014 e afirma que não está se descolando do PT. “Não há como descolar o que não está colado”. Elogia Lula, mas lembra a todo o momento do legado de Fernando Henrique Cardoso –cujo texto sobre a oposição leu duas vezes.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Folha – O sr é candidato à presidência em 2014?
Eduardo Campos – Não. O cenário para 2014 aponta como natural a candidatura à reeleição da presidente Dilma. Nós estamos no projeto dela. Fizemos uma aliança estratégica com o PT, mantendo nossa identidade. Nunca tivemos uma posição subserviente. Essa posição fez o PSB crescer. Fomos o partido que mais cresceu nas ultimas eleições. Não temos porque alterar esse rumo estratégico. Na política não tem fila.

Mas há a avaliação de que a sua campanha que está no ar significa um descolamento da presidente. O sr. fala em novo caminho pra o país.
Não há como descolar o que não está colado. Temos uma aliança política, mas temos identidades próprias. O Brasil foi caminhando, conquistamos a democracia, a Constituição, direito a ter regras estáveis, a estabilidade econômica, agora a causa da sustentabilidade, a responsabilidade fiscal. Há um grande consenso brasileiro sobre esses valores. O governo do PSDB ajudou com a estabilidade fiscal. O governo Lula ajudou colocando o dedo na desigualdade. No PSB queremos ser uma opção, um caminho para governar cidades, Estados.

E a presidência?
E um dia será natural. Acredito que o dia do PSB não é em 2014.

Que avaliação o sr. faz da cena política, com a base governista inchada e a oposição em crise?
Uma coisa dialoga com a outra. A oposição foi se deslocando da pauta real e foi ficando com uma pauta muito institucional. A campanha foi das mais despolitizadas. Quando isso acontece, quem ganha sai muito fortalecido porque quem perde não deixa um pensamento.

Isso explica o movimento de Kassab e seu novo partido?
Sim, a falta de perspectiva, depois da terceira derrota consecutiva. Leva naturalmente o governo a ficar muito forte e a oposição muito fragilizada. Isso é constante? Não. Esse quadro é dinâmico.

Para onde vai isso? A oposição vai se recompor, unificar partidos?
Os grandes movimentos não vieram dos partidos políticos. Vieram da rua. A campanha das diretas, o impeachment, a vitória de Fernando Henrique Cardoso. A oposição vai precisar fazer o debate para encontrar a proposta do futuro.

No que vai resultar o PSD?
Isso se insere no processo desse conjunto em que Kassab sempre esteve. Como não tinham mais caminho estão tentando se reinserir no quadro político sem ter uma posição automática contra o governo. Na base do governo convivem forças políticas que não são diferentes das forças que estão entrando no PSD.

Uma base tão ampla e com interesses conflitantes não paralisa o governo?
Uma grande coalizão como essa, num determinado momento, corre o risco de não existir mais e a alternativa é sair da própria base. É um processo cíclico.

Por que não houve a fusão com o PSD? Houve muita resistência interna no PSB?
Nunca trabalhamos com essa possibilidade. Podemos ter alianças na política municipal, estadual, federal.

Seu avô, Miguel Arraes, dizia eu os seus maiores adversários eram os grandes proprietários. Quem são os seus adversários hoje?
Eu procuro mais aliados do que adversários. Na eleição se expressaram os nossos adversários. Por um processo histórico, a carga de preconceito é bem menor do que sobre o dr. Arraes. Eu não vejo nenhum segmento empresarial com preconceito, seja banco, empreiteira. Eles têm a sua lógica de buscar lucro.

Qual a possibilidade de uma aliança sua com Aécio Neves?
Sou amigo do Aécio, militamos juntos. Acho que vamos manter as alianças. Em 2012, na eleição municipal, deveremos estar em muitos palanques juntos, onde já estamos, como em Belo Horizonte.

Qual o futuro de Ciro Gomes?
Ciro é um grande quadro político. Tivemos divergências. Ele pode ser candidato a qualquer coisa no PSB. Tem talento, história, o nosso respeito.

Foto: Eduardo Knapp/Folhapress