19 de abril de 2024
Estado

Folha de São Paulo repercute decisão dos policiais do RN pela continuidade da paralisação

JOÃO PEDRO PITOMBO
DE SALVADOR
CLEDIVÂNIA PEREIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA EM NATAL

Aquartelados há nove dias, os policiais militares e bombeiros do Rio Grande do Norte decidiram em assembleia nesta quarta-feira (27) manter a paralisação das atividades.

Para retomar o patrulhamento das ruas, os policiais exigem que o governo reequipe os quartéis com carros e equipamentos de proteção individual como armas, munições e coletes à prova de bala.

A paralisação foi iniciada após o governo atrasar os salários de novembro e não pagar o décimo terceiro salário dos policiais e demais servidores estaduais.

Até esta terça, o governo do Estado pagou o mês de novembro apenas para os policiais com rendimentos de até R$ 3 mil, deixando 33% da tropa sem salário.

“Os policiais estão trabalhando sem receber, vivendo em condição análoga à escravidão”, diz Eliabe Marques, presidente da Associação dos Subtenentes e Sargentos Policiais Militares e Bombeiros Militares do Rio Grande do Norte. Ao todo, cerca de 8 mil policiais estão sem trabalhar.

O governo potiguar negocia com o governo federal um aporte de R$ 600 milhões para pagar os salários dos servidores. A operação financeira, contudo, foi vetada pelo Ministério da Fazenda por recomendação do TCU (Tribunal de Contas de União).

O patrulhamento das ruas das maiores cidades do Estado está sendo feito por 190 agentes da Força Nacional. O efetivo foi reforçado na última sexta-feira (22), após uma escalada nos índices de violência nos dois primeiros dias de greve.

Estabelecimentos comerciais foram alvos de saques e houve um incremento no número de assaltos e arrastões. Ao todo, mais de 50 pessoas foram assassinadas no Estado nos últimos dez dias.

A paralisação dos policiais foi considerada irregular pela Justiça, que determinou a volta do patrulhamento. Os policiais, contudo, afirmam que não estão em greve, mas ficarão nos quartéis por falta de condições de trabalho.

“As viaturas estão fora das normas do Código Nacional de Trânsito, os coletes à prova de bala são compartilhados. Não há como o policial trabalhar com segurança nessas condições”, diz Eliabe Marques.

O governo do Rio Grande do Norte informa que as viaturas são locadas e, pelo contrato, são substituídas ou reparadas em caso de defeito.

Para mapear as exigências dos policiais e bombeiros, o comando da Polícia Militar do Rio Grande do Norte ordenou aos comandantes dos batalhões e companhias que apresentem em até cinco dias a demanda e os custos de novos equipamentos e viaturas.

POPULAÇÃO EM ALERTA

Mesmo com a presença da Força Nacional, a sensação é de insegurança entre moradores e turistas que visitam a capital potiguar neste fim de ano.

Folha percorreu toda a avenida na orla de Ponta Negra, a praia mais movimentada de Natal, e não havia nenhum policial trabalhando. As vagas de estacionamento de viaturas estavam todas vazias.

“Ficamos em alerta”, diz a turista paulista Maria Eugênia Gonçalves, 39, que visitava a praia de Ponta Negra na manhã desta terça-feira (27) ao lado do também paulista Felipe Rocca, 36.

Ambos dizem não ter presenciado qualquer tipo de situação insegura, mas “ouviram falar de assaltos e arrastões” desde que chegaram, no último sábado (23), já com a paralisação em andamento.

O setor de turismo, uma dos principais motores econômicos do Estado, teme reflexos na paralisação na ocupação hoteleira durante o verão.

“Até agora, registramos apenas uma ou outra desistência. Mas [a paralisação] nos preocupa, esperamos que haja um desfecho logo”, diz José Odécio, presidente da seccional potiguar da ABIH (Associação Brasileira da Indústria Hoteleira).

Caso os policiais não voltem ao trabalho nos próximos dias, o Réveillon nas praias de Pipa e São Miguel do Gostoso – os mais procurados do Estado – devem acontecer apenas com o patrulhamento da Força Nacional.

Nas áreas comerciais, o horário de funcionamento de lojas e shoppings voltou ao normal desde a chegada da Força Nacional. No Alecrim, maior área de comércio popular da cidade, as lojas fecharam mais cedo nos primeiros dias da paralisação por medo de assaltos e arrastões.

“Voltamos à rotina, mas ficamos atentos a qualquer movimentação estranha”, diz Tatiane Rodrigues, 24, recepcionista de uma loja de produtos eletrônicos.

Desde o início da paralisação, o Rio Grande do Norte registrou 391 roubos, sendo 40 deles a estabelecimentos comerciais e sete a bancos. Ainda foram registrados 195 roubos de veículos, 114 assaltos a transeuntes e 35 roubos a residências.

Mesmo com o aumento nas ocorrências de furtos e roubos, os moradores de Natal tentam manter a rotina dentro da normalidade. Com sua prancha de surf, o servidor público Mário Carvalho, 56, diz que não deixou de frequentar a praia por causa da falta de policiais.

“É claro que fico assustado, mas não quero deixar que o temor não vire uma paranoia”, diz.

Polícia Militar