28 de março de 2024
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Geriatra que atuou no Hospital Albert Einstein, passa a integrar equipe da Revivare

Do www.thaisagalvao.com.br

Paulistana, médica, natalense de coração, Amanda Aranha é a mais nova integrante da Clínica Revivare, que tem como preocupação número 1, a qualidade de vida.

Especializada em Geriatria, até o final do ano passado ela fez parte da equipe de Geriatria do Hospital Albert Einstein. Mas, Natal foi a cidade escolhida exatamente para a profissional ter para si, o que tanto trabalha pelos seus pacientes: qualidade de vida.

Amanda Aranha é a entrevistada do quadro FIM DE SEMANA

Thaisa Galvão – Qual a importância da Geriatria na qualidade de vida de uma pessoa na terceira idade?

Amanda Aranha – A Geriatria é a especialidade médica que trata de idosos. Ao contrário do que muitos pensam não se trata de um “clínico geral de velhos“. O que ocorre é que nosso organismo como um todo passa a sofrer diversas modificações a partir dos 40 anos de idade, mudanças essas que se intensificam a partir dos 60 anos. Por esse motivo a manifestação de doenças passa a ser atípica, a resposta às mais diversas medicações se torna diferente, os orgãos passam a funcionar de maneira diferente… E essa é a especialidade que estuda tudo isso.

O geriatra também tem o papel fundamental de ver o paciente como um todo e não focar apenas em um órgão ou sistema. Com o passar dos anos há o aparecimento de mais doenças e, portanto, mais remédios em uso contínuo. Nem sempre todas as medicações funcionam bem juntas, às vezes podemos ter uma medicação “anulando” ou aumentando o efeito da outra, e muitas vezes é o geriatra quem coordena essas interações entre remédios.

A Geriatria tem como princípios fundamentais a manutenção da qualidade de vida, no significado mais abrangente da expressão, dando vital importância à saúde física, mental, emocional, nutricional, sexual, espiritual, de manutenção da independência e autonomia. O foco da Geriatria não é nunca a idade cronológica do paciente, mas seu estado funcional.

Thaisa Galvão – Qual a idade ideal para se procurar um geriatra?

Amanda Aranha –  A Geriatria é a especialidade que cuida de pacientes a partir dos 60 anos e por ter esse caráter preventivo é importante que os pacientes busquem o acompanhamento o mais cedo possível para se manterem saudáveis e diagnosticarem doenças que muitas vezes não causam sintomas nas fases iniciais, mas que podem gerar inúmeras complicações mais para frente.

É bastante claro para todos que os idosos mais velhos, a partir de 75-80 anos, não se comportam da mesma maneira que idosos de 60 anos, que são totalmente ativos e muitas vezes saudáveis. Dentro da Geriatria também existe essa diferenciação e, consequentemente, o foco do acompanhamento acaba sendo um pouco diferente, principalmente porque esses idosos mais velhos têm toda uma biologia diferente de adultos jovens. Então, de uma maneira simplória, poderíamos dizer que para os mais novos o grande foco seria a prevenção, enquanto que nos mais velhos, a vigilância das doenças que já existem, prevenção daquelas que podem vir a surgir e principalmente o tratamento e o diagnóstico das doenças que pode ser bastante diferente do realizado para os adultos jovens.

Thaisa Galvão – Quais as principais doenças que surgem nesta fase da vida?

Amanda Aranha – A partir dos 60 anos há um aumento do risco de desenvolver hipertensão, diabetes, doenças reumatológicas como artrose e osteoporose, alterações do colesterol, neoplasias (câncer), deficiências de vitaminas, alterações de tireóide, todas praticamente sem manifestações clínicas, portanto, a investigação e acompanhamento de doenças mais prevalentes se fazem necessários.

Algumas doenças neropsíquicas também se tornam mais freqüentes, como a demência, popularmente chamada de esclerose, e que tem inúmeras causas, sendo a mais comum a doença de Alzheimer.

Normalmente quando a família percebe essas alterações de memória o paciente já está numa fase mais avançada da doença, porque no início as perdas são sutis e passam despercebidas, a não ser que o paciente seja avaliado por um profissional capacitado. É importante frisar que há uma menor velocidade de pensamento e raciocínio com o progredir da idade que é considerado normal, desde de que não atrapalhe o dia-a-dia dessa pessoa. Diferentemente, as perdas de memória e da capacidade para realizar as atividades do dia-a-dia não são consideradas normais em nenhuma faixa etária e sempre necessitam investigação especializada.

Com o avançar da idade ou perda funcional, os idosos passam a apresentar alterações musculares, como perda de força, dificuldade para caminhar e se levantar da cama ou cadeira, com instabilidade e velocidade mais lenta, com altíssimo risco para fraturas ósseas.

Também podem apresentar quedas (que hoje são consideradas patologias e não acidentes), alterações urinárias e das fezes, dificuldades de mastigação e alimentação, alterações dos órgãos dos sentidos (visão, audição, paladar, olfato principalmente), todas essas necessitando acompanhamento adequado para evitar sua progressão e deterioração da qualidade de vida e independência do indivíduo.

Thaisa Galvão – A depressão pode originar outras doenças?

Amanda Aranha – A depressão, principalmente nessa fase da vida, pode se MANIFESTAR na forma de outros sintomas que para o paciente e sua família podem parecer a manifestação de outras doenças. Raramente veremos um idoso com os sintomas clássicos da depressão como choro sem motivo e tristeza. Muito comuns são a presença de dores físicas que tem pouca melhora com medicação ou que surgem sem motivo aparente; a piora da memória e desatenção, alterações de sono (tanto para mais quanto para menos – insônia), perda de interesse nas atividades do dia-a-dia, falta de energia ou falta de “coragem”, o isolamento social e a irritação excessiva.

A depressão pode ainda mascarar e/ou acompanhar a presença de outras doenças e pode também piorar as doenças que o idoso já possui, como piorar o controle do diabetes ou da pressão simplesmente porque o paciente está desmotivado com tudo, inclusive com os cuidados à sua saúde.

Thaisa Galvão – O que fazer para se manter saudável e feliz na terceira idade?

Amanda Aranha – Não existe uma receita de bolo, já que o conceito de felicidade é individual, o que me faz feliz pode não ser o que faz meu vizinho feliz. É fundamental perceber o que é importante para cada um, individualizar e então buscar um modo de atingir essa felicidade de maneira saudável… Para uns pode ser o prazer de ler um bom livro ou assistir a filmes, para outros pode ser viajar ou comer bem, degustar um bom vinho…

Mas o tripé alimentação + atividade física + se manter ativo, funciona muito bem para  todos. Manter-se ativo fisicamente, seja indo às compras, trabalhando, praticando atividades físicas ou de lazer; mas, também mentalmente ativo. Estar sempre estimulando o cérebro, seja em um hobbie, no trabalho, lendo. Aprender coisas novas é uma ótima dica! Mantém o cérebro ativo, fazendo novas conexões e auxilia na prevenção das alterações de memória (grande receio de todos!).

Outra questão importante, hoje bastante em alta, é o convívio social. Pessoas que têm amigos, que se socializam, tendem a ter uma vida mais saudável e plena. Então, aquele jantarzinho sábado à noite também pode estar contribuindo para seu envelhecimento saudável…

Thaisa Galvão – Qual a sua especialização e aonde foi feita?

Amanda Aranha – Sou clínica geral e geriatra, me formei na Faculdade da Santa Casa de São Paulo, fiz residência de Clínica Médica na mesma instituição e, posteriormente, fiz a especialização em Geriatria na UNIFESP/EPM (Universidade Federal de São Paulo/ Escola Paulista de Medicina). Atualmente continuo vinculada à UNIFESP/EPM desenvolvendo um projeto de Mestrado em quedas.

Thaisa Galvão – O que lhe trouxe para Natal e aonde você atuava até agora?

Amanda Aranha – Eu sou paulistana e residia em São Paulo até o início desse ano. São Paulo me deu muitas oportunidades: uma ótima formação e a oportunidade de trabalhar em centros médicos de ponta. Porém a vida estava extremamente atribulada e eu acabava por não aproveitar o que a cidade me oferecia de melhor. Meu companheiro é de Natal, estava em São Paulo há quase 8 anos e também muito bem posicionado profissionalmente. Poderíamos ter continuado em São Paulo, mas faltava algo…

Foi quando no final de 2011 resolvemos priorizar a qualidade de vida, e decidimos por Natal. Ao começarmos a planejar nossa vinda percebemos que a cidade iria muito além apenas da qualidade de vida que tanto buscávamos. Natal é uma cidade extremamente promissora, que está crescendo (eu percebo isso nos quase 3 anos que frequentei Natal por causa da família do meu companheiro) e ainda tem uma carência de profissionais médicos. Então hoje percebo que minha escolha foi muito feliz, ao reunir tanto a possibilidade de ter qualidade de vida, de “viver” como eu gosto de falar, mas não deixando de lado uma faceta tão importante da minha vida que é minha profissão.

Em São Paulo eu trabalhava na equipe de Geriatria do Hospital Albert Einstein, fazia consultório no mesmo local e ainda trabalhava numa clínica para idosos (cujo nome correto é instituição de longa permanência para idosos). É uma das mais renomadas clínicas de São Paulo, cujo sócio-proprietário é o chefe da Disciplina de Geriatria da UNIFESP/EPM, composta por 5 unidades, desde idosos totalmente independentes até idosos bastante comprometidos e acamados. Chegamos a ter 108 idosos e o período em que estive por lá foi de extrema aprendizagem (desde de a questão técnica até o convívio com outras especialidades, familiares e os próprios moradores).

Thaisa Galvão – Você agora integra o time da Revivare que tem como meta a qualidade de vida. Como será seu trabalho?

Amanda Aranha – Estamos com um projeto em parceria com a Revivare, montando uma grade de atividades para idosos, multidisciplinar (nutricionista, fisioterapeutas, educadores físicos, esteticistas e outros profissionais médicos), que em breve já estará disponível. Além de um SPA direcionado a idosos.

Não se trata  de um simples conceito emagrecedor de um SPA, mas atividades que eduquem e promovam uma envelhecimento saudável e bem sucedido, de atividades que possam (e devam)  ser continuadas em casa, no dia-a-dia.

Uma mudança de estilo de vida em busca da longevidade saudável!

Thaisa Galvão – Se pudesse mandar um recadinho para os leitores que estão ou se encaminham para a terceira idade, o que diria?

Amanda Aranha – É de conhecimento geral que a população está envelhecendo e com a expectativa de vida cada vez mais elevada, porém é importante frisar que nem todos viverão esses “anos a mais” com qualidade! Muitos, infelizmente, passarão esses 15 ou 20 anos de vida com  doenças crônicas e progressivas, dependentes, incapazes e limitados para as mais diversas atividades. A grande importância de ganhar esses anos de vida é poder viver e aproveitá-los. Portanto, previnam-se!!

Sempre é tempo de iniciar atividade física, parar de fumar, optar por qualidade de vida, tratar suas doenças crônicas, monitorar aquilo que pode estar por vir… Hoje já é comprovado que mesmo quando essas atitudes são iniciadas mais tardiamente, ainda assim são positivas e levam à melhora da qualidade de vida e longevidade.