18 de abril de 2024
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José Alencar: De vendedor de tecidos a industrial

Do G1

De vendedor de tecidos a industrial, a trajetória de José Alencar Gomes da Silva se divide entre o empresário que fundou um dos maiores grupos têxteis do país e o político que só iniciou a vida pública em 1994 e chegou à vice-presidência após ser disputado por diversos partidos.

Ele nasceu em 17 de outubro de 1931, em Itamuri, município de Muriaé, na Zona da Mata mineira. Décimo primeiro filho de uma família de 15 irmãos, saiu cedo de casa e começou a trabalhar aos 14 anos, como balconista em uma loja de tecidos. Estudou só até a 5ª série.

O primeiro salário, de 660 cruzeiros, não dava para pagar um quarto de pensão. Alencar alugava, então, uma cama no corredor de um pensionato.

Com dinheiro emprestado por um irmão, aos 18 anos abriu sua primeira loja de tecidos, em Caratinga (MG). Batizada de “A Queimadeira” por um viajante português, vendia de tudo a preços populares. Daí em diante, não parou.

Trabalhou como viajante comercial, atacadista de cereais, dono de fábrica de macarrão, atacadista de tecidos e industrial do ramo de confecções.

Em 1967, conseguiu um financiamento subsidiado da Sudene para instalar, em Montes Claros, a Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), hoje um dos maiores grupos industriais têxteis do país.

Com unidades industriais em quatro estados brasileiros – Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Catarina –, além de uma na Argentina, a Coteminas exporta seus produtos para os Estados Unidos, Europa e países do Mercosul.

Carreira política
Como empresário, José Alencar começou a se dedicar às entidades de classe empresarial, atuando como presidente da Associação Comercial de Ubá (MG), diretor da Associação Comercial de Minas, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria.

Com a experiência administrativa, candidatou-se pelo PMDB ao governo de Minas Gerais, em 1994. Foi acusado por adversários de abuso de poder econômico na campanha. Acabou ficando em terceiro lugar, com 10,71% dos votos válidos.

Em 1998, foi eleito para o Senado com quase 3 milhões de votos, numa das campanhas mais caras do país. À época, Alencar gastou R$ 6,4 milhões, mais que o dobro gasto pelo ex-presidente Itamar Franco para se eleger governador (R$ 2,8 milhões), segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais.

Antes de entrar para o PL, em outubro de 2001, o então senador foi assediado também por PTB e PSB. O PMDB, do qual se desfiliara no mês anterior, chegou a lhe oferecer a presidência do Senado.

O perfil de homem simples e empreendedor, a imagem de político liberal, as críticas ao governo e a proximidade com o empresariado tornaram o então senador um dos políticos mais disputados pela oposição.

Mas levou dois anos até que a aproximação se convertesse na aliança entre PT e o conservador PL, em junho de 2002, e à formação da chapa vitoriosa com Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições daquele ano.

As críticas de ambos os lados à aliança até então inusitada levaram Lula a comparar a dupla ao par shakespeariano “Romeu e Julieta”, cujo romance despertou a ira das suas respectivas famílias.

Em entrevista à revista “IstoÉ Dinheiro”, após a eleição de 2002, Alencar comparou sua trajetória à de Lula. “Nós dois somos homens de origem humilde que nos tornamos líderes sindicais; ele como trabalhador e eu numa entidade patronal. Mas não há incompatibilidade alguma entre capital e trabalho”, disse.

Governo
Desde o início, José Alencar ganhou fama de ser um vice-presidente polêmico, tornando-se uma voz dissonante no governo em relação à política econômica do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que mantinha juros altos na tentativa de conter a inflação e a economia sob controle.

A partir de 2004, passou a acumular a vice-Presidência com o cargo de ministro da Defesa. Mesmo tendo demonstrado várias vezes incômodo na função, se manteve na pasta, a pedido do presidente Lula, até março de 2006, quando deixou o cargo para participar da campanha à reeleição.

Em 2005, em meio à crise do mensalão, que atingiu em cheio o PL, desligou-se do partido. Com outros ex-membros da sigla, participou da fundação do Partido Republicano Brasileiro (PRB), pelo qual elegeu-se, na chapa com Lula, para o segundo mandato como vice-presidente, que duraria até o fim de 2010. Com o fim do segundo mandato, cogitou se candidatar ao Senado, mas desistiu por conta da doença.