24 de abril de 2024
Política

Lixo político e transição, por Geraldo Melo

*Artigo do ex-senador Geraldo Melo sobre a crise política no Brasil, publicado na edição impressa desta TRIBUNA DO NORTE neste domingo 21 de maio de 2017:

Como disse Eliane Cantanhede no ESTADÃO desta sexta-feira, “não é só o Presidente Temer que está afundando. É todo o mundo politico”. As exceções que existem estão sendo levadas pelo caudal.

Os politicos brasileiros chegaram a um nível de descredenciamento tal, que hoje não interessa mais ao povo discutir detalhes dessas histórias escabrosas que todos os dias aparecem: não foi bem assim, mas ele nao disse desse jeito, mas isso está cheirando a armação, Fulano disse que não disse, blablablá.

Poucos são os que ainda estão dispostos a esse tipo de discussão. O detalhe, a explicação, a minúcia não interessam mais. Ninguém quer mais ver a árvore. Basta ver a floresta. É tudo verde. Tudo vegetação. 

Esse estado de espírito dos brasileiros é compreensível, não há dúvida. Um enorme número de politicos teve um desempenho tão irretocável na obra de destruir a própria reputação, credibilidade e legitimidade, que todos foram atingidos,, sejam eles ladrões ou honrados, éticos ou acanalhados, morais ou imorais. O que se ouve, de canto a canto, é quase unânime: é politico? Então é corrupto; é poítico? É interesseiro; é politico? É marginal, não vale nada, é lixo. É uma generalização absurda, que guarda clamorosas injustiças. Mas é como estão as coisas.

Isso nos colocou, como povo e como Estado nacional, em uma situação extremamente perigosa. Por que? Não é por causa da enorme injustiça, da desmedida crueldade a que estão submetidos aqueles, dentre os politicos brasileiros, que são honrados e sérios. Cada um deles é a árvore para a qual ninguém olha. É vegetal. É da cor da floresta. Não me refiro ao desespero de muitos que gastaram a vida inteira procurando cumprir o seu dever e que empobreceram na política, enquanto tantos enriqueceram.

Refiro-me ao país. Ao futuro. A essa grande pergunta: o que fazer?

Se a classe política inteira virou lixo aos olhos da população, é preciso saber o que se vai fazer agora. Em 2018 teremos eleição. Vai ser preciso eleger Presidente e Vice para o Brasil. Governadores e Vice para os Estados. Parlamentares federais e estaduais. E então? O povo dá as costas e não vota em ninguém? Impossível. O pais vai ter de seguir e o povo terá de descobrir que, apesar de tudo, não há solução fora da politica. 

Como então substituir isso que está ai? Como substituir a descrença pela fé? O desespero pela esperança? Não será, como sugere a piada que vi na internet, deixando o país sem governo e criando um grande grupo no WhatsApp para “ir resolvendo as broncas”. 

Com certeza nem é possível demitir toda a classe política e deixar o vazio em seu lugar. Portanto, será preciso escolher alguém, com nome, cara, filiação partidária, para cada posição. Se, dos atuais, não se aceita absolutamente ninguém, a turma que está nascendo em 2017 não estará pronta para assumir o pais em 2018. 

E volta a pergunta: o que se faz então? 

Acho que é hora de ressuscitar a palavra transição. Como construir uma ponte que se afaste do cenário de hoje e permita ao Brasil sobrepassar a tormenta e encontrar o seu novo destino.

Acredito que o grande desafio à sociedade brasileira, aos que lideraram movimentações populares verdadeiras, sem mortadela e sem dinheiro, aos que foram à rua pensando no Brasil, é construir essa transição. Com serenidade, mas com determinação; com prudência, mas com coragem; com humildade, mas com energia. Cada um reconhecendo as próprias limitações, a sua experiência e a sua inexperiência, o seu conhecimento e o seu desconhecimento. Reunindo quem puder ajudar, sem preconceitos de nenhuma espécie.Não para protestar por protestar. Mas, para encontrar caminhos. Para que, em 2018, assumam o comando do país os que vão começar a retificar os seus rumos, com o apoio que a sociedade hoje não dá aos seus politicos.

Se isso for feito, quem sabe, se traçará um novo e luminoso itinerário para os brasileiros de hoje e de amanhã. Se não for feito, continuaremos pelas esquinas falando mal dos politicos e dizendo que o povo não sabe votar. Pode até ser verdade. Mas, se nada for feito, reclamaremos e votaremos mal novamente.