A AERONAVE DOS INSENSATOS
A viagem de 10.000 kms que a delegação de autoridades brasileira fez a Israel, antes de virar mais uma piada para a coletânea de tragicômicas estórias em meio à mais devastadora pandemia, pode acabar com saldo positivo.
A ansiedade de conhecer um remédio mais milaculoso que a cloroquina como alternativa para a vacina, é a única justificativa.
Um novo medicamento, com via de administração quase tão inusitada como a do ozônio, de resultados espetaculares, atrai as atenções da comunidade acadêmica e a curiosidade dos leitores de tabloides sensacionalistas.
A paupérrima casuística de 30 pacientes críticos que internados em UTIs certamente fizeram uso de muitas outras drogas , exigirá um longo caminho de testes e comprovações até que possa ter o uso reconhecido e recomendado.
Tudo isso não impede a excelente oportunidade para quem desdenhou do resfriadozinho e menosprezou a vacina ching-ling se redimir dos pecados imunológicos.
A presença do PR no embarque da troupe e a chefia do chanceler, mostram a importância dada à excursão científica.
Altos oficiais de três ministérios e dois deputados federais, integram a delegação.
A falta de escalas no circuito Elizabeth Arden afastam qualquer dúvida.
Não se trata de mais uma daqueles tours turísticos disfarçadas de visitas de cortesia e boa-vontade, para estreitar os laços de amizade entre duas nações amigas.
Os representantes dos Ministérios da Saúde e Ciências terão muito que ver nos laboratórios de alta tecnologia.
Com mais da metade da população de 15 milhões vacinada, os obedientes seguidores do Torá e das normas de distanciamento social, estão agora iniciando a saída do rigoroso lockdown, esperançosos que as curvas descendentes de contaminação e óbitos continuem no rumo das planícies da Galiléia.
A ida do zero-três confere outro objetivo à jornada.
Voltará cheio de ideias para novas flexibilizações nos próximos decretos sobre uso de armas.
Quanto à presença do Deputado Hélio Lopes é mistério, esperando quem decifre.
O nobre representante do baixo clero não perde uma. Tem mais horas de vôo que a primeira-dama.
De presença parlamentar discreta, especula-se sua expertise em geo-politica internacional e conhecimentos de línguas estrangeiras que facilitam o diálogo multi-nacional.
Há também aquelas almas mais raivosas que juram, ser só uma questão de superstição.
O homão dá sorte.
Se o spray não der certo ou chegue aqui depois da imunidade de rebanho, um fato positivo terá sido alcançado.
A cena do xerimbaba de Bibi mandando o ministro-pária cobrir as fuças com máscara, é inesquecível.
Nem com Mastercard se paga.
