A BELA DO ENGENHO
Fazendas e engenhos guardam mistérios e estórias que o passar dos tempos, teima em lembrar.
Basta um neto de boa memória, e indiscrição, para manter vivos os capítulos mais felizes do livro de lembranças dos antepassados.
O filho do filho conta, que a caminho da cidade, onde todo santo dia, tinha encontro marcado com um dedo de prosa e uma dose de Bacardi, o avô, dono daquelas terras todas, para na porteira.
Um casal faz o obséquio de ajudar na saída do fusca. Logo, uma conversa é entabulada.
Jovens, sem filhos, em busca do primeiro emprego, tinham acabado de saber que a vaga que procuravam havia sido preenchida.
Compadecido com a situação, e atraído pela beleza meio selvagem da senhora-moça, o futuro patrão pede para que voltem no dia seguinte.
Determinou ao capataz as mudanças necessárias, contanto que a melhor casa da vila estivesse liberada para os novos moradores.
Ao colaborador contratado há tão pouco tempo, o tratamento dispensado chamava a atenção.
Nunca antes naquela propriedade, alguém havia merecido tantas regalias.
Não demorou muito, e o homem de extrema confiança do patrão já era outro.
Os anos passaram rápido, e todos continuavam satisfeitos com a vida mansa que levavam sem reclamações.
A não ser quando o marido da morena mais admirada do engenho se excedia um pouco mais nas provas da cachaça que ajudava a produzir, e resignado, desabafava:
No Direito, no Respeito e na Sinceridade, o doutor me passou um belo par de chifres.
(Publicação original em 25/05/2019)