19 de abril de 2024
Opinião

A difícil luta contra o inimigo que mata e não deixa trabalhar

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Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 10/06/20

Estamos perdendo a guerra contra o coronavirus e este não é um problema, apenas, do nosso Rio Grande do Norte.
O Brasil começou a experimentar um enfraquecimento do isolamento social, mesmo antes de conseguir diminuir o número diário de infectados e de mortes pelo Covid-19.

Entre os dez países com mais óbitos no mundo, somente brasileiros e mexicanos estão nessa situação. Nas outras oito nações na lista, as pessoas também estão retomando as atividades, somente quando começou a redução do número de mortes pela doença.
Terceiro país com mais óbitos no mundo, o Brasil tem visto o número de vítimas bater recordes diários dessa contagem ao longo da semana, embora o governo tenha criado barreiras para dificultar que a informação verdadeira da situação chegue ao povo.

E o nosso Rio Grande do Norte adotou a estratégia biquine (mostra muito, mas esconde o principal). Nesses 86 dias de restrições, os resultados não chegam ao povo porque a comunicação do governo não conseguiu mostrar fatos e números à população para que esta saiba do que está valendo – ou não – o seu esforço e sua adesão em busca do objetivo comum.

MAU EXEMPLO

Em termos nacionais, o mau exemplo vem do alto. O presidente Jair Bolsonaro sempre criticou o isolamento social, por entender que os danos econômicos são piores que as mortes causadas pelo novo coronavirus.

O ponto mais baixo de movimentação de pessoas no país ocorreu há 77 dias, segundo o monitoramento da Apple, com base na movimentação de veículos.

A estratégia, adotada por todos, é tirar gente da rua, aqui com o argumento real de que o sistema de saúde, não suportaria o número de infectados de uma vez, enquanto se tentava melhorar esse sistema enquanto havia a ocupação do vírus, e se fazia um esforço para fortalecer o tal sistema, com o reforço de hospitais de campanha e órgãos semelhantes.

A queda de movimentação no Brasil foi menos intensa do que em cinco países entre os dez com maior número de mortos pelo Covid-19. Os brasileiros ficaram em 35% do fluxo de um dia normal (atualmente já subiu para 53.5%). Espanha e Itália atingiram 11% e 14%, segundo dados da Apple.

HORIZONTE DIFÍCIL

Os resultados – com o número de mortos e de infectados – na maioria dos países começaram sofrer redução em menos de 20 dias depois de adotada a quarentena.

Isso não aconteceu nem no Brasil, nem muito menos no nosso Rio Grande do Norte. Uma explicação é o fato da endemia ter chegado aqui pelo andar de cima, trazido por pessoas abastadas que viajavam pelo exterior, e pelo próprio avião presidencial (que transportou dos Estados Unidos 18 pessoas infectadas), e somente por último começou a chegar à periferia.

Atualmente é notório o alinhamento da grande maioria dos governadores e prefeitos, em favor do abrandamento das restrições impostas à população. No nosso caso particular, tanto a governadora Fátima Bezerra, e o Prefeito de Natal, Álvaro Dias, tem resistido a sugestão do cientista Miguel Nicolelis, Consultor do Consórcio (dos governadores) Nordeste, que tem defendido a imposição do “lockdown”, ainda mais restritivo, no RN, que ele defende para a região metropolitana do Grande Natal, e Mossoró.

#FIQUE EM CASA

O país está nessa quarta-feira em seu 106º dia da pandemia, o 86º desde o primeiro registro de óbito, e o número de mortes continua em alta. Para efeito de comparação, a Itália registrou seu primeiro caso em janeiro e a primeira morte, em 21 de fevereiro. No dia 28 de março, 36 dias após o início dos óbitos, as mortes no país entraram a trajetória descendente.

Estudos agora realizados mostram que quarentena forte é suficiente para diminuir drasticamente a propagação do novo coronavirus mesmo em curto prazo.

Esse trabalho, feito por pesquisadores da Unicamp, reconhece que a medida é de difícil implementação.O Monitoramento do Google mostra que a movimentação do comércio e do lazer hoje no Brasil, que não chegou ao pico de infestação da doença, está com queda de 47% em relação a janeiro e fevereiro, antes da panemia chegar.

A HORA DA DÚVIDA

O Rio Grande do Norte, juntamente com a Paraíba são os estados que registraram maior crescimento proporcional dos casos de Covid-19, nos últimos dez dias.

O RN registrou um crescimento de 92% no número de caso nos últimos dez dias, quando chegou a 9.149 pessoas contaminadas. A maior parte na região metropolitana de Natal e em Mossoró. O avanço da doença já ocupou – praticamente – o número total de leitos disponíveis para terapia.

Pelo último decreto da governadora Fátima Bezerra, publicado na última quinta -feira, as restrições impostas à população tem prazo de validade até o sábado da próxima semana.

Alguém acredita que não haja uma nova prorrogação?

Na outra ponta estão milhares de pessoas impedidas de trabalhar e sem ganhar dinheiro há 86 dias, gente que que tem feito de tudo para que não precisem recorrer à ilegalidade para tirar o sustento numa atividade legal.

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