19 de abril de 2024
Luto

A homenagem de Marcelo Navarro Ribeiro Dantas a Hemetério Gurgel

Terminou há pouco a missa que celebrou um ano de saudades de Hemetério Fernandes Gurgel.  Apesar de virtual, o carinho de familiares e amigos em cada mensagem, música, flores…

Um lindo texto escrito pelo amigo Marcelo Navarro Ribeiro Dantas lido pelo Padre Francisco Fernandes.

Nos agradecimentos, a palavra do filho Marco Antônio ao amigo Ministro e ao casal  Adriana e Edson Faustino, responsáveis por  cada detalhe.

A íntegra…

Hemetério Fernandes Gurgel O nome Hemetério deriva do Santo (em latim, Emeterius), sempre venerado em conjunto com São Celidônio, quase certamente seu irmão.

Teriam sido soldados romanos, martirizados por sua fé em Cristo por volta do ano 300 d.C., provavelmente nas perseguições de Diocleciano ou Valeriano. A essa fé não quiseram renunciar e por isso foram torturados e decapitados. São hoje os padroeiros das cidades de Santander, na Cantábria, e de Calahorra em La Rioja, na Espanha. Aliás, o topônimo Santander não vem, como se pode pensar, de uma contração ou deturpação de Santo André. Mas de Santo Hemetério.

O Hemetério cuja missa de aniversário de morte hoje celebramos pode não ter sido, como seu onomástico, um santo. Mas, como ele, foi um homem de opiniões às quais não renunciava facilmente. Um que não se omitia. Dizia ― e fazia ― o que achava. Deixava sua marca. Foi assim em tudo o que fez. Em sua vida privada e em sua atividade pública. Foi um múltiplo. Atuou em muitos campos. Advogado, plantou a semente do Escritório Gurgel & Gurgel, que hoje floresce nas mãos do seu filho Marco Antonio. Curioso que o outro se chama Marcus Vinicius, como se a origem legionária do pai se revelasse nos nomes da prole. De apenas dois irmãos, como os Santos Patronos. Industrial, produziu etiquetas em Natal numa fábrica moderna, porque sempre foi aficionado de novidades e tecnologia.

Jornalista, sob o pseudônimo de Gil Brás ― retirado do clássico francês L ́Histoire de Gil Blas de Santillane, de Alain- René Lesage, por coincidência passado na Espanha, local do martírio de Santo Hemetério ―, foi um dos grandes da crônica social natalense. E, embora sem cargos eletivos, esteve a vida inteira a fazer política, apaixonado que era por tal atividade. Voltaria aos jornais, depois, escrevendo sobre gastronomia, uma outra de suas paixões.

As paixões guiaram sua vida, como a do personagem que lhe deu o apelido literário. Mas nenhuma delas foi maior que Marizinha, sua mulher. A Princesa Azul, como a chamam os amigos, a quem ele tratava por Príncipe. E aqui é preciso deixar registrado que Hemetério foi um homem de amigos, muitos e queridos, dos quais sempre queria estar rodeado.

A palavra foi sua arma e era sua grande qualidade, imbatível numa mesa ou numa roda de conversas, contando casos, fazendo observações inteligentes e irônicas, trazendo novidades. Tudo nele era intenso, tudo nele polêmico, nada nele ordinário, nada nele enfadonho.

Assim, Hemetério jamais irá sair de nossa lembrança. Os amigos, todos, sentimos imensamente sua falta, de sua alegria, de sua inquietação permanente, fruto de sua vontade de fazer algo, de fazer novo, de fazer a diferença. De ser solidário. De ter gestos quando poucos tinham.

A família, ainda mais, sofre a falta do marido, do pai, do avô, do esteio, da referência, do conselho, do apoio, dos gestos de carinho… Do amor, enfim.

Por isso tudo, e porque falar de amor é falar de Deus, a Este nos voltamos, neste momento em que pranteamos mais uma vez aquele cuja ausência aqui relembramos com tristeza e saudade, e encerramos estas palavras com os belíssimos versos de Manuel Maria Barbosa du Bocage ― que foi, por acaso, quem traduziu o romance Gil Braz para o português ―, dizendo com ele:

Ó Deus, ó Rei do Céu, do Mar, da Terra (…) Para nós compassivo os olhos lança, Perdoa ao fraco lenho, atende ao pranto Dos tristes, que em ti põem sua esperança! Às densas trevas despedaça o manto, Faze, em sinal de próxima bonança, Brilhar no etéreo tope o lume santo!

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