29 de março de 2024
PolíciaPolítica

A MILÍCIA RURAL AVISOU

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O Cangaceiro (1956) – Cândido Portinari- Coleção da família Maksoud, São Paulo


No vácuo  do poder oficial, organizações paramilitares se mobilizam para a garantia da segurança.

O filme que estreou nos estertores do século vinte, nas periferias e favelas das grandes cidades, está em fase de produção, rodando suas primeiras cenas nas zonas rurais.

Vivendo um penoso e demorado período de seca, o interior do nordeste brasileiro  começa a usar o mesmo remédio, e não é difícil prever o que vem pela frente.

As atrações da vida urbana e a renda mínima para os desocupados, esvaziou sítios e fazendas, ao mesmo tempo em que a retomada do agronegócio faz circular, no meio rural, riquezas. E cobiça.

As imagens da vida bucólica no ambiente agrícola, estão manchadas por violência e medo.

O mesmo negacionismo que não deixou ver a invasão das drogas nos pequenos povoados  e fez vistas grossas à atuação das organizações criminosas nos presídios, está abrindo porteiras para a violência desenfreada.

A universidade do crime forma em seus cursos nas comunidades das metrópoles, profissionais para diferentes áreas de atuação.

Os primeiros a chegar foram assaltantes de bancos e de agências dos correios. Quais bandoleiros saídos de estórias do velho oeste, arrombaram a festa caipira e explodiram caixas eletrônicos, num jogo pouco disputado  pelas forças policiais, que têm perdido de goleada.

Apólices de seguros calam as reclamações dos prejudicados e finge-se que o problema é dos outros, com a resignação de quem também acredita  nas leis de Robin Hood.

A diversificação da nova atividade econômica clandestina atinge proporções escandalosas.

Relatos de assaltos a propriedades rurais já são rotina, sem provocar  indignação, nem mobilização dos governos.

Acuados, produtores estão se organizando na defesa do patrimônio e da vida.

Da vigilância privada, do patrulhamento coletivo, do armamento improvisado e das normas estabelecidas ao arrepio da lei,  para a formação de milícias, é um passo.

O que hoje é visto como solução, alguns invernos pra frente, têm tudo para se transformar em outro problema de difícil solução.

A força que domina as favelas do sul maravilha, monopolizando a prestação de serviços essenciais, começou com o fornecimento do que a sociedade pelos poderes constituídos não foi capaz de prover, ocupada só no combate ao narcotráfico.

Serviços opcionais  convertidos em compulsórios.

Obrigatórios,  cada vez mais sofisticados e cobrados em moeda-extorsão.

Do transporte alternativo, exclusivo em kombis, morro a cima e a baixo, energia e água da gatobrás, TV a cabo, gás de cozinha, consequências naturais  da observância à segunda lei de Isaac Newton.

Espaços ocupados e territórios defendidos, também na representação política.

Os parlamentos já têm sua bancada, diluída em muitas outras, agindo nos subterrâneos do poder.

A segurança comprada a retalho, evolui.

Vira patrulha e batalhões formam exércitos.

O fenômeno é um aviso claro.

Se nada ou o que tem sido feito continuar como está, na barbárie, vamos ouvir muitos Coriscos a gritar por todas essas capoeiras.

Mais fortes são os poderes do povo!

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(Este texto foi publicado em 02/11/2020 e sofreu poucas alterações. O medo que campeia, nada mudou)

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