25 de abril de 2024
Coronavírus

A NOTÍCIA PEGOU O VÍRUS

 

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O necrológio está pronto.

Os boletins médicos não são animadores mas o paciente resiste aos prognósticos sombrios.

Continua respirando sem ajuda de aparelhos e mantém os sinais vitais estáveis.

O jornal está vivo. E bulindo.

A arrastada migração do papel para as telinhas dos smartphones tem alimentado a barriga de muitos profetas dos últimos dias.

A pandemia, além de fonte inesgotável de notícias, também está obrigando mudanças abissais nas comunicações.

Não foram só as olivettis que sumiram. As românticas redações naufragam no distanciamento.

Isolados, protegidos nos seus quadrados domésticos, caçadores de novidades  continuam enfrentando as feras.

Pautas, pregadas em grupos de WhatsApp.

Entrevistas, online.

Respostas, por escrito, revisadas e repensadas.

Coletivas, nos chats.

Documentos, atachados.

Fotos, de selfies em ângulos fotogênicos.

Desmentidos, exterminados pelo método juruna de gravação.

Sustentados em sólidas colunas e bem acomodados nos ombros dos monstros sagrados das letras, os periódicos, diários e folhas não trazem mais, meros relatos dos fatos ocorridos.

A notícia como ela é, nunca mais.

O que importa é como o leitor deve entender os acontecimentos, seguindo a fórmula secreta de formar opinião e fazer cabeças.

A estratégia vitoriosa tem ganho todas as batalhas.

As redes sociais ainda não desenvolveram filtros nem imunizantes contra mentiras. Nos limites das linhas editoriais, a tradição preserva a credibilidade.

Pessimistas aproveitam deslizes nas publicações para apontar sinais de melancólico e iminente fim de uma das mais antigas profissões.

De fonte segura, cujo anonimato será preservado, foi recebida a informação que o culpado pela onda de equívocos e  redundâncias que assolam os meios tradicionais de comunicação, seria o pico da curva de contaminação.

Nestes variantes dias de novas cepas, as ocorrências têm sido tão frequentes quanto os avistamentos de objetos voadores não identificados como aviões de carreira.

Como explicar que uma seção de jornal que verifica a veracidade do noticiário, tenha desmentido um prefeito de cidadezinha litorânea que afirmara não ter registrado óbitos pela Covid-19, com carimbo de fake sobre relatos de  mortes posteriores à entrevista do alcaide?

Às vésperas de completar 100 anos, tendo sobrevivido ao coronavírus por duas vezes, a velhinha ainda foi chamada de idosa. Na mesma manchete.

Todavia, uma conjunção adversativa pode revelar por quem os isentos arautos torcem na guerra ideológica que não respeita nem doença, nem a vã filosofia.

Escritor Olavo de Carvalho é internado nos EUA, mas passa bem.

Quando surge a denúncia que banhistas sem máscaras, se aglomeram em praia deserta, não tem como esconder o responsável pela atual crise da imprensa.

O maldito estagiário.

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 Darcy Ribeiro e Juruna                                              Foto de Orlando Brito.                                              1983

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