23 de abril de 2024
Governo

A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA

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Salvador Dalí – (1904-1989)


Time is the lord of reason

A frase  imortalizada por Marcel Proust (1871-1922) que dispensa consulta ao tradutor automático, se lembrado o recado impresso  na camiseta do ex- presidente Collor, pode ser repetida em coro pelos servidores públicos deste grande acidente sem muita sorte, nem precisão geográfica .

Às margem da ria do Potengi, a futura república sindicalista foi frustrada desde os primeiros movimentos da auto-proclamada primeira mulher de origem popular, ao assumir o governo.

Mesmo sem necessidade de bula papal, a Governadora tratou logo de fazer  parar o calendário.

Sem uma nova Inter Gravissimas, aos quinze dias de mandato, repartiu o mês em dois, e restaurou o já esquecido costume do pagamento por quinzena.

A inovação administrativa avançou ainda mais em ousadia.

Qual uma papisa discípula de Gregório XIII, como estivéssemos em 1582, apagou parte do passado e avançou os ponteiros do relógio para encerrar o mês em sua metade, no esforço para atualizar proventos dos novos ocupantes dos cargos comissionados.

Os espelhos retrovisores guiaram sua travessia pelas armadilhas, nos caminhos tortuosos das eleições municipais, sem maiores perdas. Nem ganhos.

A irrupção da grande pandemia que poderia causar desequilíbrio fiscal catastrófico, trouxe o alento de mais de um bilhão de reais  no socorro da União, aprovado pelo congresso e contabilizado, sem contrapartidas, como benevolência do executivo federal, cantada em versos bem ao estilo e ritmo bolsominions.

A economia em hibernação, como por milagre, preservou a homeostasia da cadeia de produção e consumo.

O volume arrecadado pelos publicanos papa-jerimuns não sofreu desfalques.

No remanso da segunda onda, com a marujada esquecida de motins e desacostumada com greves, a capitoa-mor, no alto do mastro, da casa da gávea, já pode anunciar reeleição à vista.

Os fardos mais pesados na carga  da nave-almirante estão sendo jogados ao mar.

Sem eles, o desembarque na terra firme em 2022 será pacífico e certo.

O 13° de 2018 que já apodrecia nos porões, roídos pelos ratos, juros e agiotas, esquartejado em várias partes,  começou a ser distribuído ao léu e arrepio da lei, sem atualização monetária, ao embalo das vagas do mar.

Sem data certa, levadas pela  brisa errante, um dia haverão de encontrar as contas bancárias dos barnabés.

Resta, à espera de ser desembrulhado, o pacote com o carimbo desbotado de dezembro de 2018.

O último demônio da herança maldita a ser exorcizado.

Pode também ser o carma, lembrado para todo o sempre da sobrevida política da migrante paraibana.

É só algum maquiavélico espírito suíno, resolver aplicar ao calendário de pagamentos, a segunda lei de Lavoisier.

É comparando que o povo entende.

No primeiro dia do atual governo, o salário do mês imediatamente findo, ainda no pendura, estava atrasado.

Exatamente um. Um único dia.

Em horas, 24.

Hoje,  passa de 28.

Meses.

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Salvador Dalí – A persistência da memória (1931)        MoMA, Nova Iorque

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