A REVOLUÇÃO DOS ANIMAIS
Durante os meses de pânico, na primeira grande onda pandêmica, poucas notícias conseguiam pauta entre uma entrevista de algum neo-cientista pitaqueiro e orientações de tantas autoridades sanitárias, todos fazendo o lobby do lockdown
Uma pausa para a avalanche de notícias catastróficas e paralisantes, foi a do aparecimento de animais em lugares nunca antes imaginados.
O isolamento do bicho-homem havia deixado espaços para outros viventes não humanos, imunes à avassaladora peste, reconquistar seus territórios ocupados.
A fila de patos na rua, em frente ao Tour d’Argent, parecia a indicação mais sofisticada que o novo normal viria com a calmaria.
A marcha anserina dos salvos do holocausto das panelas indicava: nos menus do futuro, não seriam mais encontrados confits nem magrets de canard.
Fausses nouvelles.
É verdade que os irracionais participam do interminável filme de suspense, no início, como coadjuvantes, vetores da transmissão da doença, representados por quirópteros e pangolins.
Na espera menos nervosa da quarta (ou será a quinta?) onda, restabelecido o direito de ir, vir e respirar livre de focinheiras, vêm à lembrança, outras ameaças quando o mais civilizado interage com bichos mais asquerosos que ferozes.
Alguns dias na praia.
Une escapade fora do veraneio. Uma volta ao estilo de vida mais simples e primitivo.
Programa na medida para a família finlandesa que havia hospedado o filho no intercâmbio cultural, e merecia conhecer tudo de melhor da nossa região.
Daquele hub, conexões para lagoas, dunas e parrachos.
A casa rústica até para padrões nativos, não se sabe como foi classificada pelos nórdicos.
Se a simplicidade fosse traduzida como ecologia, até que estaria na moda, no primeiro mundo.
Pra evitar um choque cultural atrás do outro, necessárias explicações sobre a inofensividade das lagartixas, bribas e rãzinhas de banheiro. Todas de convívio inevitável.
Sem falar na torcida para que as cascudas não aparecessem, evitando susto maior, num indesejado mas possível encontro com o artrópode voador.
Não estava na programação era a visita de marsupiais. Até porque nunca houve relato da presença deles ali.
Todos à mesa, na hora do jantar.
Entre a meia-parede e o telhado, de olhos arregalados, dentes à mostra e posição de ataque. Lá estava, como um penetra assustado, um assustador timbu.
Nem em português, dava pra falar que era normal, a situação.
Antes que os visitantes d’alem mar báltico, fossem apresentados uns ao outro, uma ligação para o caseiro que chegou prontamente, com alguns amigos. Em poucos minutos, a presa saia enrolada em panos.
Pelo desempenho daquele esquadrão caça-gambás, a eficiência do serviço deve ter atingido o padrão dos países escandinavos. E impressionado os viajantes.
Para efeitos conservacionistas o animal apreendido seria solto no seu habitat, uma próxima e inexistente reserva florestal.
Inerte.
Conheço bem o Parque Güell muito interessante como toda a obra de Gualdi. Pena que sua catedral ainda não esteja concluída.