25 de abril de 2024
Comportamento

A REVOLUÇÃO DOS ANIMAIS

O Lagarto (1914)  – Parc Güell, Barcelona

Durante os meses de pânico, na primeira grande onda pandêmica, poucas notícias conseguiam pauta entre uma entrevista de algum neo-cientista pitaqueiro e orientações de tantas autoridades sanitárias, todos  fazendo o lobby do lockdown

Uma pausa para a avalanche de notícias catastróficas e paralisantes, foi a do aparecimento de animais em lugares nunca antes imaginados.

O isolamento do bicho-homem havia deixado  espaços para outros viventes não humanos, imunes à avassaladora peste,  reconquistar seus territórios ocupados.

A fila de patos na rua, em frente ao Tour d’Argent, parecia a indicação mais  sofisticada que  o novo normal viria com a calmaria.

A marcha anserina dos salvos do holocausto das panelas indicava: nos menus do futuro, não seriam mais encontrados confits  nem magrets de canard.

Fausses nouvelles.

É verdade que os irracionais  participam do interminável filme de suspense, no início, como coadjuvantes, vetores  da transmissão da doença, representados por quirópteros e  pangolins.

Na espera menos nervosa da quarta (ou será a quinta?)  onda,  restabelecido o direito de ir, vir e respirar livre de focinheiras, vêm à lembrança, outras ameaças quando o mais civilizado interage com bichos mais asquerosos que ferozes.

Alguns dias na praia.

Une escapade fora do veraneio. Uma volta ao estilo de vida mais simples e primitivo.

Programa na medida para a família finlandesa que havia hospedado o filho no intercâmbio cultural, e merecia conhecer tudo de melhor da nossa região.

Daquele hub, conexões para lagoas, dunas e parrachos.

A casa rústica até para padrões nativos, não se sabe como foi classificada pelos nórdicos.

Se a simplicidade fosse traduzida como ecologia, até que estaria na moda, no primeiro mundo.

Pra evitar um choque cultural atrás do outro, necessárias explicações sobre a inofensividade das lagartixas, bribas e rãzinhas de banheiro. Todas de convívio inevitável.

Sem falar na torcida para que as cascudas não aparecessem, evitando   susto maior, num indesejado mas possível encontro com o artrópode voador.

Não estava na programação era a visita de marsupiais. Até porque nunca houve relato da presença deles ali.

Todos à mesa, na hora do jantar.                                    

Entre a meia-parede e o telhado, de olhos arregalados, dentes à mostra e posição de ataque. Lá estava, como um penetra assustado, um assustador timbu.

Nem em português,  dava pra falar que era normal, a situação.

Antes que os visitantes d’alem mar báltico, fossem apresentados uns ao outro, uma ligação  para o caseiro que chegou prontamente, com alguns amigos. Em poucos minutos, a presa saia enrolada em panos.

Pelo desempenho daquele esquadrão caça-gambás,  a eficiência do serviço deve ter atingido o padrão dos países escandinavos. E impressionado os viajantes.

Para efeitos conservacionistas o animal apreendido seria solto no seu habitat, uma próxima e inexistente reserva florestal.

Inerte.

Parque Güell, construído entre 1900 e 1914, concepção do arquiteto Antoni Gaudí, Barcelona

One thought on “A REVOLUÇÃO DOS ANIMAIS

  • Geraldo Batista de Araújo

    Conheço bem o Parque Güell muito interessante como toda a obra de Gualdi. Pena que sua catedral ainda não esteja concluída.

    Resposta

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