23 de abril de 2024
CoronavírusPolítica

ANUÊ JACI

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Debret

As seis horas de depoimento do ex-chanceler Ernesto Araújo na CPI da Cloroquina foram torturantes.

Não apenas para o depoente (todos que passam pelo pelourinho armado no Senado, saem cambaleando) mas também para os senhores senadores e a distinta plateia remota.

O ritmo da testemunha-réu não permitiu a compreensão do seu pensamento.

Em frases curtas e picotadas, cheias de artigos indefinidos, interjeições, monossílabos, curtas lacunas, pausas, indecisões …ah …eh..

O resultado da oitiva  analisado por comentaristas políticos, ex-colegas diplomatas e nos noticiários do horário nobre da TV, foi uniforme.

Decepcionante para os piromaníacos do planalto.

A transferência das responsabilidades para o próximo no corredor da quase-morte não pode surpreender ninguém.

Pelo menos aqueles que têm uma rasa ideia das diferenças e atribuições dos ministérios da Saúde e das Relações Exteriores.

A CPI que nasceu deficiente por não se interessar na apuração de possíveis desvios dos recursos repassados a estados e municípios, além de não ter providenciado tradutores de Libras, não está preparada para outras linguagens e interpretações filosóficas.

Os provectos parlamentares não conseguiram uma só informação que contemplasse  toda a expectativa gerada.

Nem como esteira para posteriores depoimentos, serviu.

A explicação é simples.

Seu Ernesto, mesmo rebaixado em seus títulos acadêmicos e altos postos de excelências e senhorias exercidos, não esteve nivelado a quem pratica tiro ao alvo oculto.

O embaixador não se fez entendido por motivo simples.
Ele raciocina em
Tupi.

Nem os representantes da Amazônia conseguiram sintonia na mesma frequência.

Ninguém versado em Aiambé, Cambeba, Guajá, Nheengatu.

Da toca não saiu tatu.

Os arapongas, umas araras, jiboiando jacaré, pareciam.

O lambari escapou do anzol como um guri que sai de Sergipe, passa por  Pernambuco, atravessa o  Ceará no rumo da taba de Roraima.

Os pajés ficaram jururus.

Tudo em tupi-guarani.

Foi só o decano puxar da algibeira, uma fala mal decorada do conterrâneo Ruy Barbosa, para il gato pardo entrar na tuba.

Não houve clima para  discutir a tríade gnosis, aleteia, eleutheria.

O pensamento, a verdade e a liberdade não baixaram na sessão branca.

Quando a ruralista do bico do tucano prometeu transmutar-se em capa estendida para ser pisoteada pelos invasores da Manchúria, ficou muito claro que a CPI está dominada pela oikofobia.

O jeito é convocar com urgência o espírito de Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1957) para ensinar aos nobres:

Se quisermos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude.

Para não esquecer que a vassalagem dos preclaros sábios da res publica tem dois lados.

Pelo Rei, com certeza, mas por qual Rei?


* Anuê Jaci  
(Ave Maria)

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Prisioneiros Indígenas – Jean-Baptiste Debret (1768-1848)
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Il gato pardo (O Leopardo)

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