ARTE AO GOSTO DO POVO
A volta da estátua de Iemanjá ao noticiário, além da revelação de uma guerrilha religiosa, transformou a cidade numa Florença Tropical Papa-jerimum, com o número de críticos de arte já suplantando em muito, o de artistas.
Há dois anos, ao ser apresentada aos que passeiam pelas praias, a nova representação da divindade passou a ser referência de mau gosto.
No renascimento potiguar, entendidos em estética, formões e pincéis já são mais numerosos que os poetas.
Mesmo somados aos que versejam, os inéditos e todos que levam a vida na flauta.
As comparações com a obra recolhida por comprometimento da estrutura de sustentação , corroída pela ação das intempéries e vândalos, ameaçada de desabar, foram inevitáveis.
A substituída seria mais esteticamente correta.
Mas, para os devotos, quem ama a feia, bonita lhe parece.
A rainha novamente vandalizada (ou retocada), não tem um padrão estético definido.
A figura feminina representa a mãe, multípara e atarefada.
Cuidadora de muitos filhos, alguns trabalhosos e exigentes.
Sem relógio nem hora, ajuda a todos, sob chuva e sol.
Mulher, santa, guerreira.
Os críticos têm sido implacáveis.
E descabidos.
Diante da materialização da rica história de vida espiritual e tantos afazeres, não era de se esperar que o artista a tivesse imaginado como uma dondoca de boutique, uma miss universo.
A peça retrata, com fidelidade, uma mulher jovem, contemporânea, com um toque sensual, no vestido azul, colado ao corpo.
Um comportado decote revelando colo acolhedor, contrasta com seios quase murchos, por generosos.
Na face, os traços miscigenados, lembram a influência das raças negra e ameríndia, seus crentes mais fiéis.
Os cabelos levemente ondulados fogem do padrão de beleza que costuma ser representado nas figuras das santas europeias, mais conhecidas.
Seu único adorno, mais enfeite de diana de pastoril que coroa de nobreza opulenta.
Houve até quem percebesse um ligeiro toque pop-art, por certa semelhança com Yoko Ono.
Novos tempos. Novos santos.
E santas.
Quando as canonizações deixaram de ser exclusivas dos que viveram nos monastérios do velho mundo, tipos diferentes começaram a subir aos altares.
Na colonização espanhola, os artistas do eldorado acrescentaram às técnicas de pintura, cores, formas, proporções e a sabedoria dos Incas.
O barroco da Escola de Cuzco, resistiu à censura dos clérigos que não admitiam madonas amamentando. Muito menos, em adiantado estado de gravidez.
Que a rainha do mar aceite a devoção humilde, como símbolo de carinho e esperança.
E que a divina estrela brilhante seja sempre, guia, farol que orienta, e nunca deixa um filho se perder, sem rumo.
Que texto ????