24 de abril de 2024
Eleições

AS APOSTAS ESTÃO ABERTAS

 

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Apostadores em Monte Carlo (1892) – Edvard Munch – Museu Munch, Oslo


O ainda mais importante ministro brasileiro é homem pouco afeito às tradições nordestinas.

Pouco circulou na região nestes quase três anos de governo.  Só este fato, para explicar que não tenha tido a ideia de mais um imposto.

Se cobrado, atingiria somente os mais aquinhoados e as reservas financeiras que se encontram fora de circulação, na economia informal.

Tradição que resiste às pesquisas de intenções de votos, as apostas eleitorais atingiram inéditos índices nas últimas disputas municipais, e prometem mais emoções na que se aproxima.

Mais um fenômeno atribuído à pandemia. E ao volume de dinheiro circulante do auxílio emergencial que se somou ao do bolsa-família.

Na reta final da campanha,  estiveram em ebulição, estribadas na palavra dada e nas testemunhas que sempre são muitas.

As de grandes valores ganharam fama e correram léguas. Aos incrédulos, foram mostrados filminhos com pilhas de dinheiro e os desafios aceitos com declarações de coragem e confiança.

Valem vantagem e usura.

Quem se habilita?

O feeling do comportamento do eleitorado pode ser transformado em renda extra e motivo para comemorações mais efusivas.

Depois da aposta casada, qualquer força para turbinar o desempenho do candidato, ajuda a espantar o azar.

Não dá pra deixar de participar das movimentações, tão importantes para conquistar os indecisos e quem sabe, virar alguns. Dos que nunca querem perder o voto.

Leandro, trabalhador rural, ajudando na lida do gado a 40 reais a diária, sempre gostou de política. Na cidadezinha onde vota, conhece todo mundo.

A simpatia pelo candidato, rapaz novo, filho de antigo benfeitor da comunidade, combinada à cor do partido de preferência, transformada em paixão política.

A teima dos amigos com outras predileções, depois de todos os argumentos e discussões, só podia terminar em convite irrecusável.

Topa?

A certeza era tanta que arriscaria tudo de mais valioso das posses, os frutos do suor e da vida regrada.

Menos a moto, presente do pai.

O cavalo pampa estava às ordens.

Baixeiro, companheiro da lida desde que comprou ainda potro e levou meses para amansar, com arreios e sela, por égua já passada no tempo.

Era pegar e não largar.

Parada a ser resolvida em poucos dias, com o prêmio a ser recebido a tempo de participar da passeata da vitória.

Era o acerto.

Antes,  para não perder a eleição, não se pode perder os comícios que viram festas nos fins de semana, no carnaval que em ano de medo de pegar doença perigosa e isolamento, durou mês e meio e pareceu mais animado que nunca.

Para a patroa ficar em casa, cuidando do bruguelo, não precisou de muito convencimento.

Ouvir tantos discursos e aplaudí-los com entusiasmo, fazia parte do jogo onde botou todas as fichas.

A bebida farta e por conta,  capaz de esconder a timidez e soltar a empolgação, prenúncio que o patrimônio iria dobrar em poucos dias, também aprontou das suas.

Da volta pra casa, passadas das altas horas, poucas  lembranças ficaram.

No corredor do hospital a 110 kms de distância, enquanto esperava passar pelo raio X que   prometido de 4 em 4 anos,  nunca havia chegado naquele meio de mundo, lamentou o azar de ter caído no buraco da estrada que o prefeito que tentava a reeleição, não tinha  tido  tempo de tapar.

Inabalável, a fé em Deus garantiu a alta do nosocômio, a tempo de sacramentar o voto.

E receber a aposta que continuou vogando.

(Episódio contado há um ano, renovado para a eleição 2022)

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Na Roleta em Monte Carlo (1892) – Edvard Munch – Museu Munch, Oslo

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