19 de abril de 2024
ComunicaçãoCoronavírus

ATÉ QUE ENFIM, QUASE UNÂNIMES

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Moi et le village (1911) –  Marc Chagall


A lição de mais de três milênios que vem  sendo repetida pelas gerações que sucederam os gregos das assembleias populares, está sendo passada a limpo.

Esqueçam a régua e o compasso. Concentrem-se em mouses e teclados.

Mas cuidado na esquina. O sinal pode fechar para nós que fomos jovens de ideias longas.

A infinita blogosfera atingiu os seus limites.

O que parecia uma terra de ninguém, já tem regras, regulamentos e xerifes.

Quem faz a demarcação das fronteiras são os provedores das redes sociais, os modernos agrimensores, novos delegados de bons costumes.

Os que se excedem, recebem cartão amarelo e na reincidência, podem ser condenados à morte no  desterro.

Com direito a recorrer ao milagre da ressurreição, no paraíso dos  perfis falsos.

Quem primeiro deu o alerta foi Umberto Eco (1932-2016) ao receber o título de doutor honoris causa da Universidade de Turim.

Entre tantos maravilhados com as inimagináveis possibilidades da comunicação universal, foi preciso no  diagnóstico.

O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade.

Sua crítica ao que representam as novas tecnologias na disseminação da informação, a cada dia vem sendo  mais comprovada.

Elitismo intelectual à parte, o  pensador italiano observou  que a multidão silenciosa passava a ter o mesmo direito à palavra, antes reservada  só aos sábios, merecedores de prêmio nobel.

Depois que os tipos móveis de Gutemberg foram trocados pelos editores de textos, os conflitos sobre o que se  escreve, diz e mostra,  ficaram tão histriônicos que os tribunais  tiveram de tomar providências e formar jurisprudência.

E o conceito da liberdade de expressão deixou de ser irrestrito.

As novas regras são claras.

Qualquer um pode externar suas ideias até a fronteira, sem linhas demarcadas, do prejuízo ao outro ou à sociedade.

Nas ágoras helênicas, todo cidadão ou bobo da vila podia expressar seus pensamentos mesmo os não aceitos pelo senso comum.

No mundo virtual, onde fincar as porteiras, eis a questão. E o X.

A pandemia parece ter em seu exército, uma divisão de inteligência que cuida de mostrar a verdade,  sem verniz nem filtros.

O tempo e o avanço da doença desmontam narrativas, calam sapiências, desnudam vestais, negam propagandas, dissolvem pés de barro.

A aldeia de McLuhan fala muitas línguas mas só entende a linguagem do perigo.

Quando outro valor mais alto se alevanta, cessa tudo. Até o que a antiga musa cantava.

Quem haveria de pensar que uma dose de meio mililitro da mais preciosa poção já preparada pelo gênio humano, apagasse o fogo das paixões ideológicas.

Excluídos os mentecaptos, a vacina foi aceita por todos.

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                            Le Penseur (1904) –  Auguste Rodin

 

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