18 de abril de 2024
Comunicação

BOCA CHEIA

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A tecnologia tem efeitos colaterais. A facilidade como são feitas gravações ultrapassaram a imaginação de George Orwell, passados 36 anos de quando as inacreditáveis previsões aconteceriam.

Famosos e poderosos são seguidos o tempo todo e o que fazem em público e no semi-privado pode acabar no noticiário da noite.

E se for de presidente de república, conseguem gravar pensamentos e vontades. Incluídos os verbalizados, de encher a boca de perguntador indiscreto.

Foi o que disparou uma avalanche de repetições da pergunta não respondida. Não houve famoso nem celebridade de Twitter que ficasse fora da meme.

Defensores robotizados do mito se apressaram a incluir um maldoso vaticínio envolvendo sua filha de nove anos, como motivação aceitável para a escandalosa frase.

O ríspido diálogo, logo transformado em crise política, merece ser analisado não só por bolsominions e bundões.

É chegada a hora também dos isentões serem ouvidos. E lidos.

Poderia ter sido bem pior. Lembremos que tudo se  passou na calçada da catedral. Diferente seria, num boteco de alguma esquina de Ceilândia.

Para  esses tempos de aglomerações proibidas, até que havia muita gente.

Se o tempo esquentasse mais um pouco, as vias de fatos teriam poucas chances de chegar. A turma do deixa-disso não deixaria aquilo acontecer.

Enquanto o perito Molina não der seu parecer,  quem poderá jurar que o áudio não foi manipulado antes da manipulação comprovada?

As técnicas de remasterização são incríveis.

Já se consegue traduzir para qualquer língua o que se fala em outra, instantaneamente. Sem perda de entonação e sotaque.

Se bem que ainda surjam problemas e ruídos nestas comunicações interculturais.

Müller, o craque do Bayern, nas comemorações do título da Champions League  mandou um recado para os amigos de Caicó. Em prosódia seridoense, não foi entendido pelos periodistas lisboetas.

Em país continental há de se levar também em consideração o sentido das palavras e sua completude.

Muitas vezes o que se ouve foi dito em outra acepção.

E se na polêmica frase, “encher a boca de porrada”, ficou faltando o complemento?

Onde estaria o objeto do suposto crime?

Em nenhum momento foi dito do que seria enchida a boca do bisbilhoteiro dos canhotos de cheques das mulheres alheias.

Porrada, está em todos os dicionários, refere-se também a uma grande quantidade ou um grande número

O conteúdo, fica ao gosto do freguês.

Não necessariamente, trata-se de palavra violenta. Pode ser abundante e mesmo, generosa.

Aí, convenhamos, numa boca cabe um porrilhão de coisas boas.

A Presidenta Dilma enchia  de dentifrício. Que quando saía do tubo, não voltava mais.

Os amantes de beijos.

Os poetas, de lindos versos de amor.

É preciso entender quem, ocupando cargo tão estressante, tem de administrar também uma família barulhenta.

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