25 de abril de 2024
Comportamento

BOMBEIRO NOTURNO

 

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O sembrol ainda não havia dobrado a esquina, e o estouro, em som escandaloso, daqueles que todos já diagnosticam pela ausculta.

Desta vez não foi nenhum transformador se  desequilibrando no poste.

Não fosse a oscilação na energia no piscar das lâmpadas, ainda cabia um tico de sono no restinho da treva.

A curiosidade não foi maior que a fumaça escura vinda da rua.

Na casa vizinha, labaredas altas no medidor da luz.

Momentos de decisão do que fazer, por onde começar e a constatação que estamos despreparados para situações que fogem das corriqueiras e habituais.

Nós.
patroa, a secretária doméstica, a vizinha, o eletricista da obra da outra rua, o porteiro do prédio em frente, a Cosern e até o Corpo de Bombeiros Militar (modestamente, sempre achei que cairia melhor um plural nos militares do fogo).

Um spoiler para antecipar a ausência de  vítimas e como diz a mocinha da TV, a ocorrência apenas de danos materiais.

E as lições que ficam.

O proativo que desligou a energia da própria casa e empunhou a mangueira de 30 metros e jorro forte, não  deixou de ser admoestado.

Não se usa água em incêndio elétrico.

Deve ser crença, como  de quem não acredita na Ivermectina no início da doença.

Custa tentar, ou a Ciência preconiza, deixar arder a febre até precisar de tubos, mangueiras e hidrantes?

O início no curto-circuito, seguido da interrupção da energia e queima de material  plástico pode e foi resolvido com o líquido, abundante.

Depois, a gente apresenta estudos duplo-cegos que comprovem a observação e experiência pessoal no caso exitoso.

As imagens dos soldados do fogo aguando prédios vizinhos quando o foco do incêndio foge do controle, no resfriamento do patrimônio ameaçado, resgata a sensação ancestral de macaco alpha. E infla o peito de fuligem.

Nestas horas, também aflora o saudosismo da falta que fazem os extintores que não equipam mais os automóveis.

E marca o imobilismo do guardião do prédio em trazer a solidariedade de vizinho, na espuma anti-chamas que em condomínio tão chic, não deve faltar.

Que seja revogada a norma  para os bombeiros não atenderem chamado para fogo de origem na rede elétrica.

E pelo menos que não digam que só se deslocam  a pedido da companhia energética. Ou com a casa rendida.

Que reconheça-se, a Neoenergia atende prontamente os chamados. Pelo WhatsApp. E pela telefonista-robô.

Com a precisão da hora marcada para a chegada. Em seis horas, previstas.

O episódio isolado também serve para empoderar os argumentos para o uso das máscaras.

Em ambientes esfumaçados, têm serventia. Mas nunca foram recomendadas para espectadores de shows pirotécnicos.

Na prática, na hora matinal, no ambiente doméstico, no arrabalde, ninguém lembrou do acessório obrigatório tão habitual.

No rescaldo das cinzas, pouco restou.

Só a intrusa lembrança, há tempos jogada num canto da memória, para o título do texto, no apelido de um colega de internato.

Nas suas simulações de combate aos incêndios, toda noite e os lençóis cheios de urina e vergonha, secando ao sol, no bullying que ainda não sabíamos existir, a  auto-homenagem ao herói da madrugada.

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