24 de abril de 2024
Comportamento

ÀS VEZES, É PRECISO CALAR

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ALERTA:

O TEXTO A SEGUIR É BASEADO EM FATOS REAIS. OS NOMES DE ALGUMAS PESSOAS FORAM OMITIDOS, DE PROPÓSITO.

Alguns serviços entram em nossas vidas, tornam-se tão necessários e essenciais que deixam aquela pergunta no ar.

Se havia vida inteligente antes deles.

Há apenas cinco anos no Brasil,  menos ainda em nossa cidade, é fácil lembrar como se pedia um táxi.

Sabia-se onde era o  ponto mais próximo, o número do telefone na memória (do  lóbulo pré-frontal do próprio cérebro) e até o nome do  motorista de confiança.

O Über chegou revolucionando os costumes e dando oportunidades de trabalho a pessoas desempregadas de profissões mais imprevisíveis.

No começo, as viagens com muitas conversas e as histórias de vida dos chauffers, interessavam.

Recontadas,  com uma sensação que a crise não tinha indicador de intensidade mais preciso.

Já pensou, um ex-gerente de banco, um professor ou um engenheiro fazendo trabalho duro, sem nenhum glamour?

Como os relatos não fugiam do script, o assunto repetitivo foi rebaixado à categoria dos chatos.

Nas corridas,  o prestador do serviço e seu utente, constrangidos se devem puxar conversa e até dizer o destino,  em diálogo de surdos.

Tudo já está on-line, no smartphone.

Mapas, ruas de trânsito mais intenso (carregado, no vocabulário da moça do noticiário da TV), destino final, preço e até gorjeta.

Sem precisar dizer palavra alguma, a não ser o obrigado final. De parte dos  mais urbanos.

Agora, em algumas cidades, ao se chamar o transportador autônomo, três perguntas definem como será o deslocamento.

O freguês opta e avisa antes do embarque.                       

Com, sem ou conversas apenas sobre o estritamente necessário.

Em algumas atividades, a capacidade de falar sobre qualquer e mais alguma coisa,  pelos cotovelos, viraram requisitos que indicavam aptidão profissional.                                                                  Dom de quem nasceu para o ofício.

Um engraxate que não entendesse de tudo e mais um pouco, não lustraria muitos sapatos.

Se bem que o da calçada do Chase Manhattan Bank tenha deixado Mr. Rockfeller com um bug atrás da orelha quando foi perguntado em que ações  deveria aplicar suas poupanças.                       

A conversa acabou em crack da bolsa e ditou a moda das botinas enlameadas.

3EE844DE-70B7-41AF-9EB3-84FB93B5A99AO vetusto professor de Patologia, homem de poucas palavras e imenso patrimônio cultural, escolheu seu barbeiro  não só pela habilidade com tesouras e navalhas. Precisava ser alguém que apertasse a tecla mudo tão logo  sentasse em sua cadeira.

Naquele dia, por motivo superior, seria atendido por outro fígaro.

Para não decepcionar  o cliente e a falta do titular não fosse notada, esmerou-se nos requififes.

Os cuidados com a colocação do avental e toda a proteção contra os irritantes pelos cortados, foram além do habitual e do tempo esperado.

Quando tudo estava pronto para o início da operação, antes da poda, a pergunta que seria a primeira (e única) de um abortado longo diálogo.

-Como o senhor deseja o corte?

-Calado.

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