19 de abril de 2024
Opinião

Campanha, eleição, voto e político são os componentes da Democracia

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Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 19/08/20

Faltando menos de 90 dias para a eleição municipal de 15 de novembro ainda não dá para sentir a presença da sua campanha junto ao eleitorado, tanto nas pequenas, quanto nas grandes cidades (na última pesquisa para Prefeito de Natal metade dos eleitores não tinham candidato).

E o calendário eleitoral – mesmo prorrogado por conta da pandemia – não para. A próxima estação é quando começam as definições com a apresentação dos nomes que vão participar da disputa. Dentro de 12 dias começa a chamada fase decisiva para o pleito. O prazo para a realização das convenções partidária começa dia 31deste mês de agosto e vai até o dia 16 de setembro.

Este ano com uma importante mudança na legislação: – o fim das coligações nas eleições proporcionais, estreitando a porta para partidos políticos divorciados do fato eleitoral, que em nada contribuem para a democracia; muitos deles vivendo de um ou outro candidato que se viabiliza na estrutura de outro partido, como autêntico parasita.

Mas, ainda permanece a possibilidade de serem feitas coligações na chapa majoritária.

TENTAÇÃO GOLPISTA

Com o fato excepcional da pandemia não faltaram vozes propondo a prorrogação dos mandatos. Evidentemente que esta foi uma tese que contou com a participação, sobretudo, de quem esperava ganhar mais uma temporada com o mandato que termina em janeiro.

Não se observou nenhuma originalidade nos pregoeiros da proposta golpista, que prosperou no Brasil todas as vezes que houve uma oportunidade de encaixar esse tipo de estelionato eleitoral, sob os mais diferentes argumentos.

Os argumentos se repetem, sendo o mais repetido deles, a coincidência dos mandatos, “reduzindo os custos com eleições…”
A novidade ocorreu, este ano, em nível mundial, proposta pelo Presidente da maior democracia do mundo, Donald Trump, que ombreou-se aos Prefeitos das menores cidades dos grotões nordestinos sem o pudor de pleitear o exercício de mandato sem o respaldo do voto popular, no mais rico país do mundo.

A tentação de Trump durou pouco e logo ele enfiou a viola no saco para não ficar falando sozinho. O papelão de Trump não convenceu os seus patrícios nem influenciou ninguém daqui.

FALTA DE ATRAÇÃO

De 1946 para cá, nos dois períodos de plena democracia vividos pelo Brasil (que somados, ainda não chegam a 50 anos), é possível apresentar diferenças em relações aos partidos políticos.

A primeira, de 1946 até 1964 (na verdade mais dois anos do governo militar), quando um ato institucional extinguiu todos os partidos, impondo um bipartidarismo, sob o argumento que o Brasil tinha muitos partidos (cinco ou seis naquele tempo) e obrigando todos os políticos a se enquadrarem na ARENA ou no MDB (o sonho dos ideólogos do regime era repetir o modelo mexicano do partido único, o PRI, com a ARENA, que teve 70% dos votos em 1970 fazendo esse papel, até ser derrotada pelas duas crises do petróleo quatro anos depois).

E da abertura aos nossos dias, o espaço mais longo de democracia plena.

Na fase inicial os partidos gravitavam em torno dos seus maiores líderes e dos nomes viáveis para Presidente ou Governador, JK (PSD), Brigadeiro Eduardo Gomes (UDN), Carlos Lacerda (UDN). Aqui, no RN, o ponto máximo aconteceu em 1960 com Dinarte Mariz (UDN) e Aluízio Alves, um neo pessedista, oriundo do partido adversário.

Na abertura pós regime militar, chegamos ao modelo atual, com partidos (mais de 30) mantidos com dinheiro público e alguns deles transformados em negócio de quem sonha com um modelo de democracia sem voto. E a consequência é esta que estamos vivendo no momento, de desinteresse da população, carente de líderes e de esperança.

ESCOLA DE POLÍTICA

Na prática, no nosso Rio Grande do Norte, os maiores partidos tem sido, o “Partido do Governo” e o “Partido da Assembléia”, os dois nutridos pela ideologia do compadrio, da distribuição de empregos e benesses. Embora o partido do Governo esteja sofrendo com a desidratação imposta ao PT.

Tem também o Partido das Câmaras Municipais, que, numa escala menor, tem instrumentos semelhantes.
E um movimento oriundo de parte do Judiciário e do Ministério Público – com apoio da mídia – de desmoralização da classe política, apontada como a única responsável pelo avanço da corrupção, eleita como responsável por todos os males do Brasil, completa a obra.

Teoricamente, a eleição municipal deveria ser o caminho natural da renovação, indispensável. Porém a dispensa desse estágio, com a eleição de neófitos, sem nenhuma experiência, para cargos de encerramento de carreiras, termina no desastrado atual quadro político brasileiro.

Lavajatismos à parte, está na hora de entender que não existe democracia sem eleição.

TEMPO DE DEMOCRACIA

A campanha eleitoral dos municípios deve ser vista como indispensável a prática da democracia.

Infelizmente, o eleitor brasileiro parece viciado em transferir responsabilidades e esquecer que o verdadeiro responsável pelos mal feitos na atividade política, é ele próprio.

Quando o eleitor não demonstra interesse pela eleição de quem será responsável pelo destino da sua cidade, e de quem estará mais perto da solução dos seus problemas, como poderá reclamar do futuro que começa a ser definindo agora?

Estamos na véspera do início da campanha eleitoral. A participação do eleitor é indispensável a partir deste momento.

Indiferença não isenta esse eleitor de suas responsabilidades. Reclamar sem votar não vale nada. Com participação é possível influir na agenda dos temas e votar na visão dos candidatos sobre determinados problemas.

Sem esquecer que não existe Democracia sem Político.

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