23 de abril de 2024
Palavra de Comentarista

CARTA DO LEITOR

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Enxu Queimado/RN, 23 de maio de 2020

Pois é, doutor, fico aqui nesse meu mundinho praieiro, acompanhando os moídos da vida através de uma ótica invertida e me divertindo com os amuos, as birras, o ranger de dentes e o alumiado de faíscas que escapam dos riscados de facas nas pelejas facebooquianas. Aliás, está cada dia mais complicado tentar manter um colóquio pelas vias virtuais, num é não? Dia desses vi a imbuança que um leitor, seu, destilou em comentário logo abaixo de um dos seus textículos, que aliás, de escrita bem astuciosa. O caboco ficou valente, mas nada diferente de outros que vivem a vida pandêmica a patrulhar postagens e textos alheio. Mas ligue não, doutor, porque isso são coisas que, como diz o ditado e o senhor sabe muito bem, sai pela uretra.

Doutor, se for do seu agrado responda, mas se não for, o apreço é o mesmo. Mas diga aí: Que danado de falação é essa com a tal da cloroquina? Será que é só porque a bichinha tem o mesmo preço de uma caixinha de chá de boldo?

Rapaz, ainda não apareceu viva alma enjalecada para falar sem papas na língua sobre a verdade. Os cabras ficam num gaguejado, num malamanho, num engasgado, nuns amalucados cálculos matemáticos e quando se danam a falar, falam coisas que nem eles sabem a verdade e no final, fica o dito pelo não dito e o povo se engalfinhando no melaço do “mal-dizido”.

Amigo, quando terminar essa quarentena que caminha serelepe para uma “semestrena”, vai ser tanto do moído que se brincar terão que decretar mais uma quarentena somente para o povo colocar a parolagem em dia. Ouvi falar que já tem gente estocando cerveja e caixas e mais caixas de fogos Caramuru para o dia em que passarem a régua nos decretos. O difícil vai ser convencer governadores e prefeitos a voltarem a jogar com a bola no chão de barro, pois as excelências estão se achando a última bolacha do pacote.

Dr. Domício, na verdade o traçado do rumo dessa prosa, que navega desgovernada ao sabor das ondas, passava bem distantes dos perigos isolados, porém, nessa lida de ajuntar letrinhas seguindo os ajustes da vela mestra do juízo é complicado e traiçoeiro, pois basta um puxãozinho a mais ou a menos, para a navegada descambar por outros quadrantes e é numa dessa que volto aos remédios para lembrar sabenças.

Certa vez procurei um médico para tratar de umas bolhinhas pestilentas que brotaram na pele e que a sabedoria popular dizia se tratar de mijada de potó ou cobreiro, mas bastou o doutor botar o olho em cima para diagnosticar que era herpes. Destrinchando os pormenores, receitou uma pomada, de preço bem salgado, dizendo ele que, passando o creme ou não, eu estaria livre daquela crise em torno de sete dias. Porém, disse que se eu quisesse alongar o tempo para o surgimento de novas crises, indicaria, a título de experiência, uns comprimidos contra verme, barato que só cloroquina antes do Coronavírus, e arrematou que bastava tomar três, um a cada quinze dias. Rapaz, comprei e tomei sem pestanejar e pense numa experiência que deu certo! Doutor quando sabe, sabe, mas quando não sabe, fica só na verbosidade.

E por falar em coisas baratas, dia desses papeando com meu irmão, Idio, eu tomando umas doses de runzinho com Coca-Cola e ele solvendo umas gelas mofadas, disse ele que há muito não tomava Run e até gostava, mas assuntou que um amigo em comum, que outrora não deixava passar em branco uma garrafa de pirata, havia abandonado a velha paixão ao ouvir o seguinte comentário da esposa: “- Eu não acredito que uma bebida em que a garrafa custa menos de R$ 15,00 preste! ”. Aí, dei um gole no Cuba, olhei para a garrafa etiquetada por R$ 17,50 e pensei baixinho sem fazer eco: “Agora presta”.

Pois é, doutor, esse papo troncho de caro, barato, presta, não presta, remédios, lock sei lá o que, e essa mistura acavalada de equações matemáticas com receituários médicos, no Brasil, tirou o foco da pandemia e nos empurrou para as garras monstruosas e fatais da velha guerrilha ideológica em que o grande interesse dos caciques é apenas o número do nosso título de eleitor. CPFs e CGCs para eles não representam nada e isso está mais do que provado pela ação da doença do Covid-19.

Meu caro Dr. Domício Arruda Câmara Sobrinho, por aqui vou dando um final nessa prosa e desculpe lhe avexar com esse conversê sem pé, nem cabeça, pois como disse mais acima, não era por aqui, mas por ali, mas aqui cheguei por obra e graça das engrenagens dos miolos.

Porém, antes pingar o ponto e se o senhor aceitar um convite, venha conhecer as belezuras dessa prainha carinhosamente conhecida por Enxu, pois prometo armar uma rede na varanda para que, entre um balanço e outro, o senhor rabisque e marque o território para mais um dos seus maravilhosos escritos.

Grande abraço.

Nelson Mattos Filho

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