25 de abril de 2024
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CASCUDIANA II

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Se existe alguma unanimidade genuinamente potiguar, é Luís da Câmara Cascudo (1898-1986).

É de longe, o conterrâneo mais citado e estudado. Todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo, guardam estórias, sempre repetidas.

Dos nascidos nestas ribeiras do Potengi, foi quem mais longe andou.

Até onde chegaram as notas de maior valor, na era dos cruzeiros e dos cruzeiros novos.

A não ser para o pequeno círculo familiar, um incidente ocorrido em 1955, corre o risco de cair no esquecimento.

Não que tenha algum valor histórico ou etnográfico.

Por pura gaiatice.

Serve apenas, para mostrar que até os gênios perdem a paciência. Que têm sacos. E eles, às vezes, enchem.

O mestre escreveu sobre quase todos os municípios. Contou suas origens e como evoluíram de povoados, vilas até tornarem-se cidades.

Falou das famílias ilustres, dos primeiros clérigos e principalmente, da toponímia.

Estórias que juntava multidões para serem ouvidas.

O distrito da Vila Flor, conhecido por Urtigal, que passa de Paz d’Anta Esfolada,  para Nova Cruz, graças ao exorcismo de um frade capuchinho, estava em festa.

Nas comemorações pelo centenário da paróquia, deu-se um congresso eucarístico.

No estado não muito laico, não se sabia quem tinha mais poder, as autoridades constituídas ou as eclesiásticas, representantes  ungidos pelo divino.

O ponto alto das efemérides foi uma palestra do historiador e folclorista que não cansava de espalhar conhecimentos e disseminar cultura.

Sem um auditório que comportasse tanto interesse, os bancos da igreja e de onde mais pudessem vir, não cabiam de tanta gente.

Os notáveis ocupando as primeiras filas.

Depois da missa campal, a tão aguardada palestra transcorria em silêncio respeitoso até que, do nada, começaram os cochichos, risos e quase gargalhadas.

Fora do sério e do roteiro, o professor passou pito maior que os que mereciam seus alunos mais relapsos no velho Atheneu.

Pensando que estivesse sendo apupado, como se incorporado pelo espírito furioso do Capitão José da Penha, esbravejou com a seleta plateia, agora transformada em bando de ignorantes e analfabetos.

Tudo por conta de uma inocente pergunta de um pirralho de 8 anos que acompanhava o pai, deputado, com direito e privilégio aos melhores lugares na audiência.

–Mijar, papai?

O cacófato “Cabe-me já” além da balbúrdia, rendeu uma aula de português que não estava na programação oficial.

O episódio paroquial  comprovou que só as crianças conseguem enxergar quando o rei  está nu.

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(Para não perder a graça do ineditismo, a repetição do texto publicado em 29/08/20, traz agora a revelação do nome do menino que desafiou o mestre maior: Leonardo Arruda Câmara)

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