18 de abril de 2024
Opinião

Intolerância tumultua o círculo virtuoso da nossa Democracia

Roda Viva – Tribuna do Norte  – 211222

Em dez dias, com a posse dos eleitos, completa-se o círculo virtuoso da democracia brasileira com a posse dos vitoriosos nas eleições do mês de outubro.

O momento atual é o mais longevo em 124 anos de vida republicana no Brasil. Mais de 33 anos desde o restabelecimento do estado democrático de direito, com o retorno aos quartéis dos militares que haviam deposto o presidente João Goulart, em 31 de março de 1964, sob a justificativa de impedir que o Brasil se tornasse um país comunista. Claro que é importante os brasileiros terem conhecimento desses fatos, mesmo não existindo ainda motivos para as comemorações, porque estamos entrando numa fase que ameaça essa situação tão arduamente conquistada pela sociedade brasileira que tanto lutou para essa conquista.

É preciso entender que uma das maiores conquistas da democracia é a possibilidade de convivência harmônica de pessoas – ou grupos – que pensam de forma distinta. Democracia é o melhor remédio para evitar a intolerância de setores da sociedade, intolerância que infelizmente vem aflorando nesse Brasil de 2022.

DIVISÃO DOS VOTOS

Essa foi a eleição brasileira com maior participação de eleitores (a partir das redes sociais, especialmente partidários de Jair Bolsonaro) aproveitando know how” adotado por Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos. Passada a campanha, a massa bolsonarista continuou mobilizada, inclusive para levantar dúvidas sobre o voto eletrônico que havia atestado a derrota do presidente Bolsonaro.

A diferença de votos entre os candidatos à Presidência no segundo turno das eleições de 2022 foi a menor da história. Lula foi eleito com 60 milhões de votos (50,90%), enquanto Bolsonaro recebeu 58 milhões de votos (49,10%). A diferença entre eles, com 99,96% das urnas apuradas, foi de menos de dois pontos percentuais (pouco mais de 2 milhões de votos). Lula havia passado para o segundo turno com 57,2 milhões de votos (48,43%) no último dia 2 de outubro, contra 51 milhões (43,20%) de Bolsonaro, uma distância de pouco mais de seis milhões (5,23 pontos percentuais).

A apuração de votos, transmitida ao vivo pela TV, permitiu que o brasileiro acompanhasse a apuração voto a voto, inclusive a alternância de quem estava na liderança, com total transparência, sem nenhuma interrupção que pudesse permitir alguma suposição de intervenção no resultado.

INTOLERÂNCIA NÃO

A grande marca de intolerância explícita foi protagonizada por um grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, derrotado nas urnas democráticas, reivindicando “intervenção federal”, após a derrota.

Não se trata de um movimento isolado, mas é evidente a existência de uma ação coordenada que vem se repetindo nas maiores cidades do Brasil tentando sepultar nossa democracia ao preconizar uma repetição do que aconteceu em 1964, quando as forças armadas, assumiram o governo, rasgaram a Constituição, fecharam o Congresso, censuraram a imprensa e suspenderam os direitos e garantias individuais.

É preciso registrar que o capitão Bolsonaro que conseguiu sete mandatos de Deputado Federal no Rio , com votos concentrados na Vila Militar, recebendo expressiva votação de famílias de militares, com números crescentes em sete eleições (1991 a 2018), mas, não conseguiu sair do “baixo clero”(, grupo formado pelos deputados de menor expressão). Ele teve o seu grande momento na votação do impeachment da presidente Dilma, quando enalteceu a figura de um chefe militar acusado da prática de tortura.

INTOLERÂNCIA GERA INTOLERÂNCIA

Neste caso presente, o estado brasileiro vem marcando a sua posição, pela ausência, ao tolerar essas mobilizações .

E o mau exemplo dos apoiadores de Bolsonaro terminou estimulando o outro lado com novos atos de intolerância, numa versão esquerdista para manifestações de desrespeito à lei.

No último sábado, em Natal, elementos ostentando a bandeira de um tal MLB invadiram uma loja do Nordestão, no Alecrim, impedindo a empresa de faturar, assim como o consumidor, de se suprir de mantimentos. Segundo seus porta-vozes, o objetivo da manifestação era receber a doação de cestas básicas de alimentos para serem distribuídas com as famílias que vivem na periferia e estão sofrendo um período de muita adversidade.

Foi dito que o movimento “Natal sem fome” serve para denunciar a “fome e a carestia enfrentadas por essas famílias”, lembrando que ações semelhantes estavam sendo realizadas em outras cidades.

CONVIVÊNCIA DE CONTRÁRIOS

As posições radicais externadas por grupos que se organizaram para tumultuar os resultados das urnas, não estão sendo devidamente combatidos, mesmo quando ameaçam a ordem pública, O que não é bom para a democracia e também para a população, numa hora em que se deveria aproveitar esse bom momento para procurar fortalecer essa democracia, transferindo o problema de contestação do resultado para o Poder Judiciário, diante de casos flagrantes de passividade do Executivo.

Depois do inesperado episódio da invasão ao Capitólio nos EUA, exatamente no centro do sistema que irradiou o “capitalismo democrático” para o mundo. – Este parece o modelo que vem sendo adotado pelos grupos que não aceitam a derrota de Bolsonaro e querem um caminho longe da lei.

Alexandre de Moraes destacou que o alto comparecimento às urnas no segundo turno demonstrou que a população brasileira confia nas urnas eletrônicas e no sistema eleitoral.

— Observo que tivemos um comparecimento de 79,41% do eleitorado, com quase 125 milhões de eleitores. E que pela primeira vez a abstenção do segundo turno foi menor do que a do primeiro turno. Houve efetivamente a participação maciça do eleitorado, e o brasileiro demonstrou a total confiança nas urnas eletrônicas — apontou o Presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

E arrematou seu ponto de vista que deve ser o da maioria dos brasileiros.: “Isso é democracia, isso é alternância de poder, isso é estado democrático e aqueles que criminosamente não estão aceitando, serão tratados como criminosos e as responsabilidades serão apuradas “.

 

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