29 de março de 2024
ArteCinemaMemória

COISA DE CINEMA

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O Sinal de Fumaça (1905 ) – Frederic Remington


Sobre a logística empregada, pairam dúvidas e controvérsias.

O fato é que para exibir os filmes mais novos e empolgantes, o Cine Éden mantinha parceria com um congênere de Duas Estradas, a 25 km de distância, na vizinha Paraíba.

O encarregado do transportes dos rolos dos filmes, em caixas metálicas,  era o superatleta da cidade.

Ás do giz, caçapas e tacos, lenda do sinuca, Severino era também empresário no ramo de aluguel de bicicletas. Precursor das e-bikes.

Para diminuir custos, as mesmas fitas eram projetadas nos mesmos dias, nas cidades quase gêmeas, unidas  pelos modernos trens movidos a óleo diesel da Rede Ferroviária, que o uso, costume e a boca torta, ainda insistiam em chamar pelo nome dado pelos ingleses,  Great Western Railways.

Quando naquela noite, o filme já começou com o artista em desvantagem na briga, aos farrapos e quase morto, antes da reação que sempre leva à vitória e aos braços da mocinha tímida, a não tão seleta plateia notou que alguma coisa estava errada.

Como viria dizer Caetano anos depois, alguma coisa estava fora da ordem naquele  far west.

Não se desfrutou nem do direito de tanger em xôs, o condor que hesitava segundos antes de alçar voo do penhasco, até encher a tela com a envergadura das asas abertas.

Nem o leão da Metro-Goldwyn-Mayer, teve o rugido antecipado pelos miados dos gaiatos, sentados nos bancos corridos, sem encostos, da plateia da segunda classe.

Os bochichos, logo viraram reclamações. Que o título  da película nem havia aparecido.

Revolta traduzida  em protestos, apupos,  bagunça e pedidos de devolução do que foi  pago pelos ingressos, na mais eloquente forma de cobrança:

Quero o meu dinheiro de volta!

Quando a culpada passou a ser a  mãe do projecionista, foi a hora da precisa intervenção do CEO da mais popular empresa de entretenimento desde o estuário do Bujari passando pelas ribeiras do Curimataú, até o início do Atlântico Sul, duas léguas depois da Penha.

Luzes acesas e os pedidos de silêncio para a apresentação da solução encontrada pela alta gerência.

Paulo Bezerra, o proprietário, bilheteiro e negociador dos descontos aos financeiramente desprevenidos, reconheceu a falha, lamentou o transtorno, e repetiu com firmeza e convicção, os criadores da arte que ele apenas reproduzia: o espetáculo não pode parar.

A projeção iria continuar. Naquela noite, a segunda  parte do filme, seria a primeira. E vice-versa.

Ninguém ficaria  sem entender a trama. Tudo que estava sendo apresentado, seria esclarecido antes que surgisse o primeiro índio sorrateiro e ameaçador, quando fosse mostrado o desenrolar do enredo desde o início, na cena do rastro de poeira da diligência.

Naquele tempo não se falava ainda em sessões contínuas, a grande contribuição de Nova Cruz à indústria cinematográfica mundial.


(Este texto é uma reprise da fita exibida originalmente em 13/09/2020)

E0001983-49AB-483B-A500-353998CABD9FUma corrida para a madeira. (1889)


54394486-493C-4B3A-B44F-2782D0E5BB59Sua primeira lição (1903)


71D992FC-D0DE-4D11-9FE2-51EFF3C2BA8BCafé da manhã de um cavaleiro nas planícies (1892)


43292531-3F99-4E5E-BB70-3065F56D807ECavalaria em uma tempestade de areia no Arizona (1889)


DE7C653A-5C80-48CC-A3DA-7522F231DAC3O outono do Cowboy (1895)


As obras de Frederic Remigton (1861-1909) estão expostas no  Museu de Arte Americana Amon Carter, em Fort Worth, Texas

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