19 de abril de 2024
Coronavírus

Colapso de Manaus é o retrato do negacionismo do poder público aliado à irresponsabilidade dos cidadãos

Gravediggers bury a COVID-19 victim while surrounded by relatives at the Nossa Senhora Aparecida cemetery in Manaus, Amazonas state, Brazil, on January 13, 2021, amid the novel coronavirus pandemic. - In Manaus there is a shortage of hospital beds as cases increased at an alarming rate. The city, with two million inhabitants, had already experienced nightmarish scenes in April and May, with mass graves and refrigerated trucks parked in front of hospitals to pile up the dead. But the situation is even worse in the beginning of 2021, since between January 1 and 11, at least 1,979 people were admitted to hospitals due to the virus, against 2,128 for the whole month of April, the worst since the start of the pandemic. (Photo by MICHAEL DANTAS / AFP)

Do editorial do Estadão 

Não foram poucas as vozes que no fim do ano passado alertaram para a iminência de uma explosão de contaminação e mortes por covid-19 no País nas primeiras semanas de 2021.

É exatamente o que se vê agora. Não foi presságio e tampouco mau agouro dos especialistas em saúde pública.

Foi apenas a antevisão de uma consequência lógica da irresponsabilidade com que muitos governantes e cidadãos se portaram diante da ameaça de contágio pelo novo coronavírus durante os festejos e férias de fim de ano.

Agora, a incúria, o egoísmo e o desmazelo de tantos que puseram a fruição individual acima do interesse coletivo apresentam uma pesada conta

O colapso do sistema de saúde em Manaus é o retrato cruel de como a negligência e o negacionismo do poder público, aliados à irresponsabilidade dos cidadãos que fazem pouco-caso das medidas protetivas contra o vírus, são mortais quando se está diante de uma crise sanitária da magnitude da pandemia de covid-19.

Não se chega a um estágio desses sem uma longa esteira de erros e omissões.

Fiel à sua índole, o presidente Jair Bolsonaro foi rápido ao fazer circular a informação de que o governo federal repassou R$ 8,91 bilhões ao Estado do Amazonas e R$ 2,36 bilhões à cidade de Manaus, sugerindo que nada tem a ver com o desastre havido na capital amazonense.

“Fizemos a nossa parte”, disse o presidente ao grupo de apoiadores que batem ponto na entrada do Palácio da Alvorada. 

Em primeiro lugar, repasses da União aos Estados e municípios decorrem das leis e da Constituição, não da boa vontade do presidente da República. Bolsonaro não fez nada além de sua obrigação ao repassar os recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), além dos recursos extraordinários aprovados pelo Congresso para dar conta do enfrentamento da pandemia.

Segundo, em nenhum momento desta emergência sanitária o resultado trágico em Manaus ou em qualquer outro município decorreu da falta de dinheiro. Faltou ao governo federal compromisso com os fatos, com a ciência, com a vida. Faltou a coordenação, no âmbito federal, dos esforços nacionais para debelar a peste.

Sobre o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), também recai uma boa parcela da responsabilidade pelo colapso da saúde pública em Manaus por ter cedido à pressão de empresários e autorizado a flexibilização das atividades comerciais no Estado, contrariando as recomendações das autoridades sanitárias. “Eu preciso ouvir a voz das ruas”, justificou o governador.

Por esta sua “insurgência” contra a “ditadura do lockdown”, Lima foi bastante festejado por apoiadores do presidente Bolsonaro. 

Manaus foi uma das cidades que sucumbiram ao falso dilema entre a “liberdade” individual e o “arbítrio” das medidas de contenção ao novo coronavírus.

Como a natureza é implacável, o resultado não haveria de ser outro: o aumento do número de mortes por um dos meios mais cruéis, a asfixia.

As três esferas de governo agora se mobilizam para socorrer os manauaras. Para muitos, entretanto, a ajuda chega tarde demais. Até onde irá o desgoverno?

One thought on “Colapso de Manaus é o retrato do negacionismo do poder público aliado à irresponsabilidade dos cidadãos

  • PedroArtur

    A sua materia e os comentarios estao perfeito , so faltou a Sra Jornalista acrescentar o fato da irresponsabilidades dos poderes liberar a campanha eleitoral que contribuiu e muito para o que esta acontecendo nesse momento.

    Resposta

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