25 de abril de 2024
Memória

CONTO, CONTRAPONTO E UM TAL DE ABRAÃO

Abraham Lincoln Pop Art 2, por Bekim M


Há três anos, quando ainda eram menores, antes dos efeitos dos hormônios da puberdade, um textículo  fez uma lembrança da infância desencadear outras tantas na família.

DOIS DISCURSOS

Gettysburg, Pensilvânia.

Um pequeno discurso de menos de dois minutos, há mais de 150 anos, é o mais famoso já feito por um político.

Com ele, o Presidente Abraham Lincoln homenageou  os que morreram na batalha que apressou o fim da Guerra da Secessão, reafirmou  princípios de liberdade e assumiu compromisso com um país a ser reunificado sob um “governo do povo, pelo povo e para povo”.

Nova Cruz, Rio Grande do Norte.

Outra pequena peça oratória, na plataforma da estação de trens, há mais de cem anos, nunca foi esquecido.

Por outros motivos.

O Capitão José da Penha em raid de oposição à oligarquia ( já tivemos isso por aqui) Maranhão,  é recebido com hostilidade pela claque organizada pelos chapas-brancas.

Sob vaias e apupos, precisou apenas da introdução e do vocativo para lançar uma maldição da qual, muitos acreditam, a cidade nunca se livrou:

“Nova Cruz,

Nesga do Rio Grande do Norte.

Pedaço infeliz da Rússia.”

Apesar da agressão verbal, o desafeto militar que morreu no Ceará, em combate contra  milicianos ligados ao  Padre Cícero Romão Batista, é nome de uma das principais ruas da cidade.

Visitada por ele aquela única vez.

O texto original de 23/06/2019, ao ser republicado, dois anos depois, em dia adinâmico e preguiçoso de  pandemia, recebeu reparos e comentários.


ECOS DE DOIS DISCURSOS

O famoso discurso que o Capitão José da Penha  proferiu em Nova Cruz, suscitou comentários.

No grupo. No seio familiar.

Marluce, a mais experiente da irmandade, lembrou de tê-lo ouvido muitas e repetidas vezes.

Cassiano, agora coleguinha neste Território Livre, revelou as ocasiões nas quais não faltava sua evocação.

De alto, bom tom e com todas as vogais e consoantes caprichosamente pronunciadas, pelo nosso patriarca.

Pontual e invariavelmente, após cada derrota eleitoral.

Corrigiu até o local da peroração:

“O discurso foi de uma janela do Cosmopolita Hotel, hoje de minha propriedade”

Leonardo, o historiador da linhagem, acrescentou  detalhes.  Como lhe contaram. E o que vivenciou e guarda na memória privilegiada:

“Não foi claque organizada .

Foi geração espontânea mesmo.

Pela péssima dicção do orador, provocando uma intranquilidade no ordeiro povo da cidade.

Ao Iniciar o discurso, o  “Povo de Nova Cruz” foi entendido como “Fogo, Nova Cruz !!!”

Faltou dizer que jovem vereador, chegou a elaborar  um Projeto de  Lei para desomenagear o Capitão. Desistiu, para não provocar mais um cisma político-familiar  com o ex-prefeito, seu pai, autor da homenagem com o nome da rua que  liga o centro da cidade e o populoso bairro do Alto de São Sebastião.

“Em uma das minhas campanhas, para Deputado Estadual em plena Ponte Régis Bitencourt, sobre a encontro dos Rios Curimataú e Bujari, ao saber que o Deputado Tarcísio Ribeiro havia sido  mais votado do que eu, na minha cidade, dei razão ao Capitão e repeti, o “Nova Cruz, nesga do Rio Grande do Norte. Pedaço infeliz da Rússia”

E para confirmar o  vínculo da terrinha, com a outra memorável oração de Lincoln, em Gettysburg,  veio à lembrança, a figura de Segundo Moreira, parente e correligionário, que certa vez, perguntou aos universitários:

“Quem é esse tal de Abraão de quem Lauro tanto fala?”

Washington DC Skyline, por Bekim M

 

 

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