CREPÚSCULO VERMELHO
Do outro lado do mundo, a terra explodiu debaixo d’água, libertando a força da natureza, e trazendo apreensão e medo de ter sido somente um anúncio de outros mais violentos e destruidores, ainda por vir.
Como se das suas entranhas, a terra estivesse mandando uma mensagem urbi et orbi.
O esperado tsunami não varreu os sete mares, mas o aviso, lembrando que o planeta é um só, chegou para todos.
A nuvem de fumaça que seguiu ao tremor da terra não só deixou prejuízos para os 25 mil habitantes de Noku’Alofa, mas espalhou-se pelo resto do mundo, conduzindo no seu rastro, ao sabor dos ventos, partículas invisíveis de poeira, que acrescentam às últimas luzes do dia, inéditas cores à paleta que retrata beleza e vida.
A certeza que não será o último e que no dia seguinte tem mais, faz momento tão especial reavivar memórias e acalentar sonhos de paz.
O vulcão de Tonga o traz de volta ao cartaz, em todas as cidades, das megamaiores às pequenas vilas e até para quem sempre viveu isolado, um espetáculo cada vez com mais plateia.
Não há estatísticas confiáveis mas acredita-se ser a atração mais vezes repetida em toda história.
O ator é o mesmo.
Nunca mudou.
Sem substitutos, afastamentos, somente quando condições climáticas adversas, não permitem as apresentações.
O artista é intenso, irradia calor, preenche todos os espaços com brilho.
No palco, ofusca quem está à sua volta.
Só quando encoberto e enevoado, não comparece.
Nos lugares tíbios, planos são feitos para aproveitar ao máximo sua presença na aguardada próxima temporada.
O preparo de cada performance leva o dia todo mas a mostra, em si, só alguns minutos.
Resume-se a uma única cena com ares de despedida.
Evoca os mais recentes acontecimentos vividos. Alerta que tudo chega ao fim.
E sempre tem recomeço.
Que o que vem logo a seguir, também tem sua graça, encantos e mistérios.
E apesar de muitas vezes longa e escura, terá, igualmente, um final.
Radiante.
Mostrada há milhões de anos, desde quando nem espectadores havia, muda apenas de cenário e iluminação.
Apesar de serem fiéis ao roteiro original, críticos insistem em rotular alguns como sendo melhores e mais bonitos.
Acrescentada ao espaço cênico, música instrumental faz a diferença na percepção de quem assiste, merecendo o sucesso alardeado.
Até listas dos dez mais correm a blogosfera, e há quem faça longas viagens, apenas para conferir se a fama é merecida.
Ele parte, mas sempre volta.
Já foi deus. Já foi rei.
Nunca deixará de ser o astro dos arrebóis.