CRÔNICAS CLONADAS
Em março de 1951, Rubem Braga publicou, no Correio da Manhã, uma crônica, em forma de carta ao diretor da companhia telefônica.
Estava há dias sem poder usar a genial invenção de Graham Bell.
Recorreu ao regulamento do uso do aparelho e chegou à conclusão que mesmo sem fazer o que se esperava dele, (falar, ouvir e ser informado que o interlocutor estava ocupado, proseando com outrem), o aparelho era excelente professor de humildade.
A leitura do contrato da prestação dos serviços recomendava modéstia à toda alma com propensão ao orgulho e à soberba, ao mostrar como os assinantes eram desprezíveis e fracos.
Desfilou cláusulas, sem usar o termo originado nas fábulas de Esopo, leoninas.
Se o infortúnio de um incêndio destruisse a casa toda, sua esfinge de matéria plástica teria de ser paga.
Nas letrinhas miúdas do contrato, descobriu que o aparelho era para uso exclusivo do proprietário, seus familiares e empregados.
Confessou ter perdido velhas amizades por ter recusado a permissão de seu uso, segundo o artigo 2 do Regulamento.
Até comedido no palavreado coloquial tornou-se.
Para não correr o risco de ter sua linha desligada pelo uso de palavras obscenas.
Era o que rezava a norma contratual.
O melhor do defeito do telefone do cronista maior, foi revelar seu sonho de um dia receber uma ligação de Rita Hayworth comunicando a morte do príncipe Aga Khan, seu miliardário marido e o convite para gastar com ela a fabulosa herança, em Paris.
Falecido três anos antes de chegada das fantásticas engenhocas ao Brasil, o segundo filho mais famoso de Cachoeiro do Itapemirim nunca imaginou o mundo de maravilhas do telemóvel.
Quanta inspiração não teria tido com este troço que insistem em chamar de telefone e que também até fala, o maior cronista (pra não contrariar os machadianos) do século XX.
E antes que acusem o autor deste textículo de control c/control v, desfrutem de mais uma das suas delícias.
Drummond vai de lambuja.
https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/11524/o-crime-de-plagio-perfeito