18 de abril de 2024
Coronavírus

DIÁRIO DE VIAGEM EM TEMPOS DE PANDEMIA

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Narrativa de viagem já foi gênero literário de enorme sucesso.

As pessoas conheciam o mundo pelos olhos de quem sabia descrever o imaginado desconhecido, com precisão e alma.

Relatos tão reais que qualquer um podia se sentir um gato preto num campo de neve.

O frio e o preconceito racial, entrando na pele do leitor do jeito que  Érico Veríssimo sentiu na Nova Iorque de 1941.

O turismo popular e as redes sociais transformaram as descrições, muitas vezes recebidas com desconfiança, em fotos instantâneas e tempo real.

Não há mais cartões postais.

Não é precisa aprender a perguntar onde é o correio, em tantas línguas.

O longo período de quarentena e o lento retorno às atividades, permitem que nos primeiros a saírem, renasça  a vontade de todo viajante. Compartilhar sua experiência. Única. Singular.

Antes se contava como era o mundo fora do mundinho de cada um.

Agora se conta como está o mundinho de todos, fora da segurança das nossas casas.

Para sair do casulo, além das trilhas bem batidas das farmácias e supermercados, só motivação muito especial para aventuras mais longínquas .

Um coração sem estresse, sem exercicios e de novo inundado de gordura e chocolate, batendo fora do ritmo, não corre mais, nem se deixa levar para o hospital mais próximo.

Ele manda um e-mail para o arritmologista que orienta, prescreve e já marca a consulta para o próximo dia útil, como se as agendas cheias de encaixes já tivessem sido recolhidas aos museus.

Para quem tem vivido todos os dias, inúteis, não há mais preocupação com horários nem dependência a outros compromissos e obrigações.

Todo o tempo é dele, o inquieto navegador digital.

Nas salas, não há mais esperas nem falta de onde esperar.

Nem conversas.

Nem trocas de sintomas e doenças, com o vizinho. Ninguém próximo pra se puxar conversa.

Nem tempo pra reclamar da demora.

Nem perguntas nervosas à recepcionista, de quantos aguardam na fila. Impacientes.

No segundo dia, o itinerário prevendo tempo livre entre a coleta de sangue e os testes de resistência física, uma refeição frugal é oportuna. (Recomendam-se roupas confortáveis e adequadas).

Um simples café-da-manhã pode ser uma experiência inédita para qualquer explorador de novos costumes.

Mesmo na mesma padaria,  da mesma esquina de sempre.

Logo na entrada, o cuidado com o cliente.

Tanto, que verificam a temperatura, sem contato algum, com um aparelho que parece uma pistola, importado da China.

Higienizar as mãos é obrigatório e até luvas descartáveis estão disponíveis para quem quiser.

A sinalização é perfeita. Vertical e horizontal. Ninguém toca no outro.  É só seguir o fluxo que não tem erro.

É possível escolher o que for, se servir, pagar e sair. Sem precisar dizer uma só palavra.

Um grego não teria a menor dificuldade, mesmo que em português só soubesse dizer mutchobrigado.

Coisas de primeiro mundo.

Com as aglomerações e excursões ainda proibidas, as viagens serão, por muito tempo, à moda dos mochileiros. Espartanas.

Não custa nada treinar nestas escapadas obrigatórias, como se virar sozinho, em lugares nunca visitados. Como antes.

Quem sabe,  daqui a uns vinte decretos da governadora, a gente já não possa passar um fim-de-semana na Pipa?

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