29 de março de 2024
Familia

DO BAÚ DA SAUDADE

5F01A7C0-3EAA-408A-A700-9FC2B5E76653
O tempo que sempre foi o mesmo, imutável ao longo da História, parece agora,  ter ficado maior.

Sobra até algum, e muito,  para se arrumar as gavetas, quase esquecidas, das lembranças do passado.

Difícil é ordenar os sentimentos que despertam, remexendo as emoções.

E escondê-los dos leitores.


(Publicação original em 08/07/2019)


FAMÍLIA, PLÁGIO E PENDURA

Há muito se diz e se repete que o risco que corre o pau é o mesmo do machado.

Quem se atreve a pescar, nas águas baldeadas da memória já meio cansada, estórias que não merecem ficar no esquecimento,  também pode cometer o pecado venial da repetição. Ou mortal, do plágio. Involuntários.

Agora mesmo, por um átimo de lucidez não fico a dever o principal desta estória, acrescido de juros (daqueles escorchantes), a Ciduca Barros.

Foi ele quem há uns bons anos, pediu-me em nome da família o nihil obstat para publicar em livro, um caso passado com Dona Joanita, sua cliente no Banco do Brasil em Nova Cruz.

Mesmo sem nenhuma consulta fraternal,  fiz o que todos teriam feito. Não só autorizei , como autentiquei e dei fé de ofício ao relato que sem nenhum reparo aconteceu com a excelentíssima senhora nossa mãe.  Tudo se passou como descrito e do jeito dela.

Uma das principais protagonistas da história da cidade. Com destacada atuação no comércio, política e vida social.

Era dela o primeiro acolhimento aos novos moradores. Que já recebiam de início, sem comprovação de qualquer garantia, crédito ilimitado para mobiliar e equipar a casa que também ajudava a alugar. Sem cobrança de comissão.

Fazia também o papel  de agente de empregos.

Ninguém ficava sem cozinheiras, babás, carregadores d’água e de balaios de feira. Sabia recrutar nos sítios, as pessoas certas para cada tipo de família. Única exigência,  matricula escolar e frequência às aulas, para os jovens trabalhadores.

Seus fregueses e beneficiários preferenciais eram funcionários do estado, da mesa-de-renda, das correntes, oficiais, subs, sargentos, cabos, praças da polícia e principalmente os meninos do banco. Um dos poucos na região.

Em contrapartida, tinha livre acesso para interceder junto às autoridades. Para prender e soltar (soltava muito mais do que prendia). Casava quem avançasse o sinal. E batizava os que escapuliam do avanço.                            Dava bom destino (e passagem para o sul) às sirigaitas que tumultuavam a harmonia dos lares. E reconciliava os casais

Mais um ano de seca braba. A fazenda sem quase nada produzir, por baixo na política e o comércio fraco, o pendura dos títulos bancários foi inevitável.

Já sem poder mais prorrogar  os vencimentos, repetidamente adiados e prestes a receber uma inspeção da auditoria, o gerente apontou que teria que recorrer ao cartório de protestos.

Foi aí que sentiu a reação que nunca poderia esperar da cliente (prime, personnalité)  tão especial:

-Se você fizer isso, sua mulher nunca mais arranja uma empregada por aqui.

Os papagaios foram esquecidos no fundo da gaveta, de chave perdida, até a chegada de melhores tempos. E negócios.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *