DRAMA NA CIDADE PEQUENA
Ainda causam espanto, notícias policiais de ocorrências em cidades menores.
Onde se imagina uma vida tranquila e pacata, estão presentes todos os personagens das mais empolgantes estórias
E onde houver amor, interesse, ciúme, traição, vingança, haverá uma pra contar.
(Publicação original em 28/08/2019)
AMOR DERRADEIRO
Entre Remígio e Montadas, pendendo p’ros lados de São Sebastião de Lagoa de Roça, a cena do crime.
Areial.
Vocação de pousada.
Há cem anos, dos tropeiros da Borborema.
Hoje, para mais de seis mil almas que vivem do que tiram da terra, do que a prefeitura dá e do bolsa-família.
Foi lá que Luiz encontrou Eudivânia e viu na mulher experiente, a estabilidade que tanto procurava. Para quem já andava cansado da vida retirante, o teto garantido. O resto, Deus não deixaria faltar.
Tinha saúde e disposição para o trabalho.
Com filho quase da mesma idade do companheiro, Vânia imaginou que um novo iria coroar o relacionamento. E há onze meses, colheu o fruto do amor maduro.
Lugar de muro baixo.
Não ligou muito para os primeiros comentários. Maldosos e invejosos. Bonitão, era natural que o marido atraísse outras mulheres. Falaram em três. Só não acreditava em nada pra valer. E quem tem suas cabritas que prenda. Os bodes estão soltos. Sempre foi assim.
Até desconfiar que o pecado estava morando ao lado.
A vizinha com quem dividia as faltas de fim de mês, era a última pessoa que iria imaginar como a nova conquista do seu Dom Juan.
Tinha de ter certeza antes de uma lição para a sirigaita nunca mais esquecer. Coisa de mulher para mulher.
Depois tudo voltaria ao normal.
O caso era mais sério e antigo. Bem debaixo das suas ventas. Tinha também de chamar o seu Lula aos carretéis.
Ninguém discute uma relação sem traumas. Sobrou pra ela. Sopapos e olho roxo. Para quem perguntasse, um escorrego besta e a quina da mesa.
O plano foi mudando. Até de alvo.
Bem que já tinha sido alertada. São todos iguais.
Não escapa um. Quem sabe, ainda pode aparecer uma nova chance.
Pra resolver a vida, o mal precisa ser cortado pela raiz.
Aquela voz que só ela escuta. De manhã, de tarde e de noite.
Sai da missa sem entender o que o padre quis dizer. Quase não dorme. Ninguém com quem falar.
O planejado não era mais o mesmo. Depois do que fizer, nada restará.
Agora os dois ficariam juntos. Para sempre.
Explicou tudo numa carta, deixada para o menino de 18 anos que já tinha arribado pra tentar a sorte em Campina.
E caprichou na amolação da faca.