DUAS GUERRAS, MESMAS VÍTIMAS
Ainda corria a primeira quinzena da contagem de mortes que hoje passam das 660 mil, quando deste pedaço de Território, que se quer livre por muito tempo, partiu uma sugestão, passada pelo crivo do tempo, a ser comparada à outra guerra tão cruel que completa um mês.
Confiantes na identidade nacional e cientes da inferioridade dos seus exércitos frente ao poderoso e devastador inimigo, como teria sido a invasão russa, se os ucranianos tivessem adotado uma tática de não enfrentamento, e pacíficos, houvessem abandonado as armas e, simplesmente, assistido o triste desfile militar, sem motivo, sem rumo e sem destino.
A identidade nacional, os costumes, as ideias, muitas vidas e a economia mundial estariam preservadas.
Há sete meses, a reconquista do Afeganistão pelos talibãs, sem lutas suicidas, nem um único tiro disparado, não foi exemplo suficiente para mostrar que as desavenças sempre acabam em mesas de negociação, sujas de sangue inocente, arrastadas e igualmente humilhantes.
Na maior ameaça à sobrevivência da humanidade, também não se entendia bem o que estava ocorrendo, no que foi batizada de primeira pandemia pela Organização Mundial da Saúde.
Táticas de combate nunca estudadas, armas invisíveis e desconhecidas, faziam o exército de defesa, atônito e impotente.
Atordoados, os comandantes não sabiam como conduzir suas tropas.
O arsenal bélico, utilizado antes com sucesso, mesmo se tivesse algum poder de fogo, era insuficiente para enfrentar tantos invasores que se multiplicavam sem serem detectados pelos mais minuciosos radares e microscópios.
Nas terras arrasadas que deixou, o inimigo não enfrentou reação que não pudesse aniquilar em pouquíssimo tempo.
Sua trajetória era a única informação em que se podia confiar com alguma previsibilidade.
Não se conseguia, ao menos, calcular com segurança, a data do desembarque.
As menores perdas e os resultados menos catastróficos foram vistos onde os invadidos adotaram a estratégia do não enfrentamento.
Onde a principal preocupação foi proteger os vulneráveis
Fazê-los deixar de circular. Entender que o isolamento social era quase tudo que podia ser feito. Uma atitude individual e intransferível.
Esvaziar todos os alvos mais evidentes. Quando chegasse a hora do confronto, os agressores encontrariam os quartéis vazios.
Era momento de refletir se o envio de jovens médicos e enfermeiros para combate no front teve realmente serventia. Se não estavam sendo usados na infantaria, já se sabendo quem seriam as primeiras baixas.
As estatísticas mostraram depois, que os profissionais de saúde, sem retaguardas protegidas, foram os mais severamente atingidos.
Quando se deixava um jovem médico, sem equipamentos de proteção individual adequados, numa UTI pobremente abastecida, era o mesmo que dar uma ordem a um universitário imberbe de Cracóvia para uma missão sem combustível para a volta.
O sacrifício precoce de quem pode ajudar a salvar tantas vidas depois que a tormenta passar, nunca encontrará a coluna das perdas irreparáveis, na hora da cruel contabilidade destas duas guerras.
Jovens não merecem ser usados como kamikazes.
Nem para reforçar o papel do grande vilão, nem para esculpir estátuas de novos heróis.