28 de março de 2024
Opinião

Duda dizia que comunicação é mais ser entendido que falar

Morreu Duda Mendonça, o primeiro grande nome do markering eleitoral no Brasil, criador de uma verdadeira escola, a partir da campanha de Mário Kertez a Prefeito de Salvador em 1985.

A escola baiana de marqueteiros que atuou em todo o Brasil, professando como máxima, que boa comunicação é muitos mais ser entendido do que dizer.

Duda chegou ao Rio Grande do Norte em 1986 contratado por Geraldo Melo para coordenar a comunicação de sua campanha ao Governo. Dessa passagem ficou como legado de sua participação um slogan – “Novos Tempos, Novos Ventos” – e um jingle que incendiou o Estado.

Melo foi o vitorioso com uma magra (e nem por isso menos significativa) vitória de 14 mil votos sobre João Faustino candidato dos três Maia (Tarcísio, Lavoisier e José Agripino), na campanha de “João, Lavô e Jajá”, que elegeu Lavô e Jajá, ex-governadores, para o Senado.

Duda tinha naquela campanha contratos numa dezena de Estados, e depois de aprovada a campanha de GM, passava aqui onde tinha um grupo seu comandado por João Santana, que depois passou o mestre.

E por Antônio Melo, irmão do candidato, que depois disso desenvolveu uma carreira solo de marqueteiro, atuando em vários Estados.

RN ANTES DE DUDA

Quem trouxe o marketing político para o RN foi Roberto Jorge Albano (CNPJ: R. J. Albano) que já tinha fama de invencível, e capitalizou (mesmo adotando um comportamento muito diferente do mago baiano que antes dos políticos fazia o seu próprio marketing). Duda atuou como autêntico co-protagonista, vindo logo abaixo dos candidatos.

Albano adotava a postura do homem-invisível, misterioso. Ele trazia como bagagem o fato de ter trabalhado na campanha do general Dwight Eisenhower, (Comandante das tropas aliadas na 2ª Guerra) para Presidente dos Estados Unidos, nos idos de 1952.

No Brasil, Albano chegou chegando.

Trabalhou para Adhemar de Barros e teve enorme sucesso no Nordeste com a campanha de Cid Sampaio (quando o povo DIZ CID – decide), “Severino o pé de chumbo”, em Campina Grande, e aqui no RN ligou seu nome a uma campanha revolucionária, em 1960, A campanha de Aluízio Alves para o Governo, ele próprio, grande jornalista e também marqueteiro.

No RN já encontrou um slogan – “Candidato da Esperança” – um jingle – “Aluízio Alves vem do sertão lá do Cabugi” – e uma cor – verde, que ele desaconselhou seu uso, temendo uma confusão com o integralismo/nazismo de Plínio Salgado.

Como não existiam institutos de pesquisa de abrangência nacional, Albano trouxe consigo o seu próprio departamento de pesquisa, fundamento do marketing.

O GRANDE SALTO

O grande salto de Duda Mendonça ocorreu em 1992, quando aceitou um verdadeiro desafio: a campanha de Paulo Maluf para Prefeito de São Paulo, ganhando a visibilidade que necessitava para se vender a todo o Brasil como um milagreiro, que “levantava até defunto”. E continuou com Celso Pita, sucessor de Maluf.

Foi quando compreendeu que não podia se transformar em móveis e utensílios do malufismo e fez de tudo para comandar o marketing de Lula (que vinha de três derrotas), trabalho entregue a militantes, alguns de grande talento (exemplo: Carlito Maia), mas carentes de profissionalismo.

No começo de 2002, em Natal, convidado para o Seminário de Marketing Político promovido pelo Diário de Natal, Lula disse numa conversa restrita que “nunca vou querer o Duda Mendonça cuidando de minha campanha”, assunto que estava no noticiário político, tipo “marqueteiro de Mafuf pode fazer a campanha de Lula”, noticiário alimentado pelo próprio Duda.

PAZ & AMOR

A grande sacada da campanha petista foi uma frase imortalizada no Festival de Woodstock, de 1969, no estado de Nova York, da chamada geração hippie, protestando contra a presença americana na Guerra do Vietnam.

O time de Duda Mendonça aclimatou a mesma frase – “Paz & Amor” – para contrapor a imagem de quem era o “João Zangado” que atemorizava a classe média (que o derrotou nas eleições presidenciais de 1990, 1994 e 1998).

Duda convenceu a Lula que ele só seria Presidente conquistando a classe média. Conquista iniciada com “Lulinha Paz & Amor”. E ele liquidou a fatura logo no primeiro turno com 50 milhões de votos, ou 52% dos votantes.

FIM DE CASO

Do mesmo jeito que terminou seu caso com o malufismo, Duda provocou o seu rompimento com o petismo; este com um final muito menos civilizado, já nos tempos do “mensalão”.

O que, no princípio teve até presente (do vinho Romanée-Conti, hoje cotado a R$ 18 mil) uma garrafa entregue ao presidente Lula. Consta que, depois das comemorações, o publicitário não engoliu a própria prisão numa rinha de galo de briga, no Estado do Rio, pela Polícia Federal.

Tendo identificado as fontes pagadoras, ele tomou a iniciativa de procurar a CPI dos Correios para confessar ter recebido pagamento de marketing eleitoral em campanha do PT por meio de Caixa 2, no exterior, rompendo com seu maior case político.

Conhecedor das fontes pagadoras (de tudo que é campanha) Duda Mendonça ampliou o seu mercado para o estrangeiro atendendo demandas da Odebrecht & Cia.

Um bom exemplo dessa nova fase aconteceu na Argentina, em 1999, quando adotou o mesmo slogan aqui usado para Maluf em favor do presidente Carlos Menem (de direita) “Menem lo hizo” – “Menem que faz”, a mesma receita que não deu certo para Maluf, com uma verdadeira prestação de contas de realizações do seu Governo.

Um gênio da comunicação brasileira não merece ser visto como um reles delator. – Duda foi muito mais do que isso.

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