ELEIÇÕES EM FAMÍLIA
A mais empolgante disputa neste segundo turno das eleições municipais está sendo travada nas beiras de praias, às margens dos rios e pelos alagadiços do Recife.
Quando dois primos, ambos deputados federais, brigam pelo espólio de uma dinastia populista, o interesse é despertado e o noticiário político alimenta a desavença familiar.
O que acontece no estuário do Capibaribe-Beberibe, respeitadas as dimensões, tem similitudes locais que o tempo e os mais velhos não esqueceram.
A nova batalha dos guararapes evoca uma buena ideia para que seja lembrada a epopeia que ocorreu na confluência de outros dois cursos temporários d’água, da bacia semi-árida do Bujari-Curimataú.
Na primeira eleição de prefeitos pelo voto popular, o ineditismo já garantia o especial interesse pela primazia na história da paróquia.
Antes nomeados pelos governadores, eram os intendentes e interventores escolhidos pelos chefes políticos, consequências naturais dos apoios recebidos pelos candidatos vitoriosos ao cargo de governador.
Aptos a participarem do inédito jogo do campeonato municipal, os alfabetizados escolheriam pela maioria iletrada, num tempo em que votar não era tampouco moda feminina.
Era a estréia dos partidos fundados na redemocratização pós-guerra e que na multiplicidade, mantiveram a rivalidade bipolar por bons 20 anos.
UDN X PSD.
Na cidade que se destacava na região como a mais progressista, os grandes proprietários rurais escolheram, de novo, um dos seus.
Dos mais abastados. Para exercer o cargo que só vinha sendo ocupado por parceiros tão poderosos.
Senhores mais velhos e experientes.
Mesmo que a legislação permitisse, ninguém esperava que o filho do último prefeito nomeado fosse o adversário dos homens de maiores bens na Nova Cruz que ainda não havia perdido seus distritos de São José de Campestre, Passa e Fica, Monte Alegre (depois, por astúcia do Majó Theodorico Bezerra, Monte das Gameleiras), Serra de São Bento e Lagoa d’Anta.
Aos 35 anos, Lauro Arruda enfrentou e venceu o sogro, Totô Jacintho, em pleito inesquecível, digno de ser romanceado em versos de folheto de feira.
Na campanha, contou com o apoio e dedicação total da mulher que nunca deixou de beijar a mão do adversário do marido, nos rápidos encontros que se resumiam às bençãos paternas.
Para manter a liturgia do cumprimento filial, a futura primeira-dama não escolhia lugar.
Mesmo que fosse o comitê eleitoral do partido antagonista.
Os temas da campanha, ou foram censurados para as gerações seguintes ou mantiveram o nível respeitoso na dicotomia entre progressistas e conservadores.
Novo versus velho.
Tostão contra o milhão.
Menino.
Liso.
Histórias que se repetem em enredos cheios de emoções, intrigas, ambição e poder.
Refregas que deixam marcas.
Feridas que demoram a curar.
Pelejas que se multiplicam e perduram.
Assuntos de família.
Coisas da política.