24 de abril de 2024
Coronavírus

ELOGIOS NÃO PAGAM CONTAS

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Trabalhadores da área da saúde nunca foram tão homenageados.

Com toda razão e méritos.

São eles que correm todos os riscos para enfrentar uma doença que transforma o cuidador na próxima vítima.

Não tem sido sempre assim.

Órgãos fiscalizadores só consideram trabalho insalubre, os executados em algumas poucas dependências dos hospitais. Centros cirúrgicos, fora das listas, por exemplo.

Que a pandemia também dê esta lição. Ou mais argumentos para os advogados.

As belas manifestações de apreço nas redes sociais, começam a receber sugestões alternativas:

Que tal parar de chamá-los de heróis e passar a pagá-los melhor?

O Ministro Paulo Guedes já sinalizou que  tudo voltará ao normal quando desmontarem os hospitais infláveis, de campanha:

Nossos heróis não são mercenários. Que história é essa de pedir aumento de salário porque um policial vai exercer sua função?

Ou porque um médico vai à rua exercer a sua função. Se ele trabalhar mais por causa do coronavírus, ótimo.

Ele recebe hora extra.

Mas dar medalhas antes da batalha?                        As medalhas vêm depois da guerra”.

(Publicação original em 20/05/2020)


GATO DE HOSPITAL

O centro cirúrgico é dos lugares mais  democráticos que podem existir.

As vestes, iguais para todos, do professor-doutor-catedrático à turma da faxina, reflete-se no comportamento coletivo.

As conversas são descontraídas, na camaradagem mas algumas ultrapassam o limite  da informalidade.

Relacionamentos mais sérios, com papel passado ou não, começaram naqueles ambientes sempre de muita pressa, pressão e tensão.

A jovem instrumentadora participava pela primeira vez de um procedimento com o cirurgião que já deixara a  meia-idade pra trás.

Em qualquer tempo mais tranquilo da operação, depois do silêncio lancinante nos momentos cruciais, para relaxamento de todos, voltam as conversas.

Tímida, a estreante comenta, baixinho, que o doutor parece um gato.

Com a auto-estima lá pelas cumeeiras, o revelado felino solta a língua e passa, falando sempre baixo, a contar dos cuidados que tem com a dieta e das atividades físicas que pratica.

Já pensando em outras oportunidades. Outros assuntos. Outras horas. Outros lugares.

A novata, percebendo as terceiras intenções, faz o experiente chefe da equipe cair das nuvens.

Quase tendo de gastar uma das sete vidas.

      O senhor fala  ronronando, como um gato. Mal consigo entender o que está pedindo.

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