18 de abril de 2024
CoronavírusJornalismo

ELON MUSK VEM AÍ

Mulher lendo jornal (1872) –  Eastman Johnson


Quando a notícia também foi contaminada na pandemia, o necrológio já estava pronto.

As carpideiras haviam recebido uma graça especial e puderam sair do isolamento, sem esperar pelos boletins médicos, para atender o velório do paciente, que acabou sobrevivendo  aos prognósticos sombrios.

Respirando sem ajuda de aparelhos, mantendo sinais vitais e saldos na contabilidade, estáveis, o jornal está vivo, e bulindo, apesar da arrastada migração do papel para as telinhas dos smartphones ter alimentado a barriga de muitos profetas em pânico, arautos do apocalipse.

A doença universal, além de fonte inesgotável de matérias, também apressou outras  mudanças na comunicação.

Não foram só as olivettis que sumiram. As românticas redações naufragam no distanciamento.

Isolados, protegidos nos quadrados domésticos, caçadores de novidades  continuam enfrentando e abatendo feras, uma a cada dia.

Pautas,  pregadas em grupos de WhatsApp.

Entrevistas, online.

Respostas, revisadas e repensadas, por escrito e e-mails.

Coletivas, via chats.

Documentos, atachados.

Fotos, selfies em ângulos fotogênicos sob efeitos de mil filtros.

Desmentidos, exterminados pelo método juruna de gravação em áudio e vídeo.

Sustentadas em sólidas colunas e bem acomodados nos ombros dos monstros sagrados das letras, os periódicos, diários e folhas, não trazem mais, meros relatos dos fatos ocorridos.

A notícia como ela é, nunca mais será a mesma.

A nova cepa da imprensa leva o leitor a entender os acontecimentos, segundo um método  experimental  que forma opinião, e faz cabeças.

Sucessoras naturais e ecológicas, as redes sociais ainda estão em processo  de desenvolvimento de imunizantes eficazes contra mentiras.

O front das últimas novidades, ainda depende da retaguarda das linhas editoriais, e da credibilidade preservada nas tradições .

Mesmo assim, deslizes nas publicações são interpretados como sinais melancólicos do iminente fim de uma das mais antigas profissões.

De fonte segura, cujo anonimato será preservado, foi recebida a informação de quem seria o culpado pela onda de equívocos e  redundâncias que sabotam os meios tradicionais de comunicação.

Nestes variantes dias, as ocorrências só têm aumentado, e são tão frequentes quanto os avistamentos de objetos voadores não identificados, noticiados como aviões de carreira.

Às vésperas de completar 100 anos, tendo sobrevivido ao coronavirus por duas vezes, uma velhinha ainda foi chamada de idosa, outras duas vezes, no mesmo título da  notícia.

Uma conjunção adversativa pode revelar por quem os isentos torcem na guerra ideológica que não respeita nem doença, nem vã filosofia.

A internação de escritor famoso, que costumava divergir das ideias defendidas pelo jornal, foi noticiada, sem camuflar o inconformismo com a evolução do caso:mas passa bem.

Quando surgiu a denúncia que banhistas sem máscaras, se aglomeram em praia deserta, não tinha como esconder, e deixar fora da corretiva nota da redação, o responsável pela crise da imprensa.

O maldito estagiário.

A família Brown ( 1869) – Eastman Johnson – Museu Young de Belas Artes, San Francisco, Califórnia


N.R.

O nome do homem mais rico do mundo entrou no título do texto, só pra lembrar que daqui pra frente, o Twitter e tudo o mais, serão diferentes.

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