ENSINANDO A VIVER
O romance entre Harold e Maude foi um escândalo. E sucesso no cinema e no teatro.
Um jovem de 20 anos que se apaixona e pede em casamento uma senhora de 78, ainda causa estranheza. Quanto mais, há quase meio século .
A inusitada estória de amor tem outros encantos e mistérios.
O rapaz, de família rica, fissurado em assuntos mórbidos, tem como divertimento principal, para desespero da mãe dondoca, brincar de simular, nas mais criativas situações, o suicídio.
O nada convencional casal se conhece num velório e logo o espectador fica sabendo que a velhinha adora viver. E valorizar todo momento vivido.
A parelha quase dá certo.
A trilha sonora é outro espetáculo. Obra-prima de Yusuf Islam, antes conhecido como Cat Stevens. Muito antes da submissão ao Alcorão
Quem quiser mais spoiler, é melhor reservar a fita nas melhores locadoras de vídeo do bairro. Ou procurar nas netflixs e outros provedores globais dos streamings da vida.
O título original, os nomes dos personagens, no Brasil, virou Ensina-me a viver.
O mesmo apelo que todo estudante em isolamento social, silenciosamente, está fazendo aos mestres e escolas.
Não é só samba que não se aprende no colégio.
A insegurança de quem vê as aulas suspensas é calculada em tempo perdido pelos alunos e em atrasos a serem compensados depois, pelos professores.
Subestima-se a capacidade das crianças e jovens. Ainda não dá para comprovar se mesmo sem as formalidades, quanto de conhecimento tem sido acrescentado aos sem-escola.
A quarentena que modificou hábitos e relacionamentos familiares, produzirá efeitos por muito mais tempo do que se possa imaginar. E para muito depois de quando estiverem pensando que a vida já tenha voltado ao normal.
Discutem-se as oportunidades de aprendizagem, se estão sendo equânimes, em meio a tanta desigualdade social.
Se a educação a distância consegue substituir a regular e presencial.
Se é possível seguir em frente, online, e ao final do calendário gregoriano, aprovar quem tenha comprovado merecer.
Se assim for feito, terá sido perdida uma raríssima oportunidade de se descobrir o que, de verdade, deva ser ensinado e interessa a quem quer aprender.
Se o período afastado dos bancos escolares puder um dia ser avaliado em aquisições para a formação dos jovens, quem sabe, não se chegue à conclusão que diferente do esperado, no fim, a contabilidade vai fechar no azul.
A depender do neto que aos cinco anos, em teleaula e diante de espelho, a pedido da professora, descreveu como se via naquele momento. E em uma só palavra.
–Folgadão.
Na insistência por um perfil mais psicológico, a mestra deve ter entendido que eles são mesmo apaixonantes e apaixonados.
–Charmozão.
Pelo menos, auto-crítica e auto-estima devem ser imunes ao coronavirus.