28 de março de 2024
ComportamentoMemória

UMA ESCADA PARA A MEDICINA

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A Clínica do Dr. Agnew (1889) – Thomas Eakins – Museu de Arte de Filadélfia, Pensilvânia, EUA


Coadjuvantes essenciais.

Personagens  sem importância no enredo, não deixam de ser imprescindíveis para o andamento das tramas.               

E a garantia da risada franca.

Surgidos nos circos como assistentes dos palhaços, as escadas foram ocupando seus lugares e estão presentes em todos os espetáculos.

Nas telenovelas, os protagonistas têm sempre um confidente. Um amigo, parente, serviçal, uma prima desprovida. Alguém que escute.

Ou provoque uma informação que o público precisa saber.

Seria muito chato assistir o mocinho falando só o tempo todo. Pensando em voz alta ou fazendo confidências para o criado-mudo.

O maior sucesso neste ofício, talvez tenha sido Dedé Santana, nos Trapalhões.  Sozinho, não era de arrancar riso de ninguém.                                   

Sua função, provocar a graça que vinha do outro palhaço. Preparava a estória, como o levantador de um time de vôlei.

Não precisa muita  imaginação para  identificar a mesma função no exercício da Medicina.

Na clínica mais renomada do Rio de Janeiro, final dos anos 70, só internavam pessoas de fino trato e muita grana. Industriais, altos comerciantes, artista e políticos (como adoecem os coitados), era a clientela preferencial.

Ainda engatinhavam os convênios médicos e os planos de saúde estavam por volta do quarto mês de gestação.

Professores-doutores traziam seus pacientes e também uma seleção dos melhores das suas equipes do serviço público.

Auxiliares nas cirurgias ou assistentes dos casos clínicos. Ficavam com o trabalho mais pesado. Alguns faziam quase tudo, até mesmo as etapas difíceis das cirurgias.

Eram eles que dominavam as técnicas mais modernas, experimentadas nos padecentes dos IAPs, INAMPS, CONASP, SUDS, SUS e o que mais venha  trocar de nome.

Só não podiam sair da sombra do chefe. Eram só uns crachás, conhecidos pelo nome comum a todos.

Assistentes.

Só trocavam de quais assistidos.

Para o cliente atraído pela fama do medalhão, nada que fizesse era aceito, sem antes perguntar se o bambambã havia concordado.

Autonomia quase nenhuma. No máximo uma dipirona em caso de febre.

Até 37,5°.

Nas visitas à beira do leito, não podia faltar, tal um Sancho, sempre por trás do Doutor Quixote.                             

Calado, recebendo as orientações, anotando ou fazendo de conta.                    

Os mais escolados, conseguiam concordar com o aceno de cabeça, ao mesmo tempo em que faziam um ar de quem estava tomando conhecimento daquele detalhe do tratamento pela primeira vez.                      

Mesmo que fosse a última descoberta de William Harvey.

O Neymar Jr. dos galáticos da Rua Sorocaba era o cirurgião que marcava hora, tarde da noite, para a ligação obrigatória do residente-plantonista.

Naquele momento, no Country Club, o ás do bisturi,  entre uma trinca de dois e um royal straight flush, ao ser chamado ao telefone, tinha o mote para começar a descrever em detalhes, a operação que só ele e um colega do MD Anderson sabiam fazer.


(Qualquer semelhança com uma publicação de 29/08/2019, não terá sido mera coincidência)

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A Clínica do Dr Gross (1875) –Thomas Eakins – Thomas Jefferson University, Pensilvânia , EUA

 

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