28 de março de 2024
Imprensa Nacional

“Este último mês foi perdido”, diz Mandetta sobre Brasil no combate ao Coronavirus

Brazil's Minister of Health Luiz Henrique Mandetta gestures during a news conference, amid the coronavirus disease (COVID-19) outbreak in Brasilia, Brazil April 8, 2020. REUTERS/Adriano Machado

Sem medo de dizer o que vê e sente, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta falou à Folha de São Paulo desta segunda-feira.

Alertou sobre a defesa política do uso da Cloroquina. E disse o que os leigos já imaginavam: O Ministério da Saúde não evoluiu no último mês, depois de sua saída e da nomeação de Nelson Teich. Confirma trechos da entrevista.

O sr. foi demitido no meio da pandemia. Seu sucessor não durou um mês no cargo. Qual deve ser o impacto da queda de mais um ministro?

Este último mês foi perdido, sem nenhuma ação positiva por parte do ministério. Tinha pedido para toda a minha equipe que permanecesse e ajudasse o ministro [Nelson Teich].

O natural numa situação dessa é o novo ministro colocar a visão dele e pedir para a equipe executar. Mas o que assistimos foi a demissão de todo o segundo e o terceiro escalão do ministério, sem colocar ninguém no lugar. Isso é o pior dos mundos. O Ministério da Saúde está hoje uma nau sem rumo. Foram 30 dias de um ministério ausente.

A que o sr. atribui isso? Falta de habilidade política de Teich ou interferência de Bolsonaro?

Não dá para saber porque eu não estava no dia a dia. Vi a entrada de um número grande de militares. Eles têm conhecimento de logística, de operações. Mas não trabalham com o SUS. O sistema de saúde dos militares é de hospitais próprios, de baixa resolutividade e com plano de saúde. Não vi ninguém com experiência com o SUS na equipe nova. O próprio ministro não tinha experiência.

Alguns estados já adotaram “lockdown” (confinamento estrito). Está na hora desse tipo de medida?

Se falar de Manaus, Belém, Fortaleza, o “lockdown” vai se impor. Mas tem outros locais em que pode continuar trabalhando e aumentar gradativamente [a restrição]. O que tem que saber é qual o momento. Tínhamos colocado no começo que, se passar de 80% a ocupação de leitos, tem que começar a considerar [“lockdown”].

Mas tem estado trabalhando com 98% e deixando o povo andar na rua. Aí começa a morrer paciente cianótico [azulado por falta de oxigênio] porque o oxigênio não entra. Está morrendo na UPA, em casa, e não tem vaga de CTI.

O que leva à campanha pela cloroquina?

A ideia de dar a cloroquina, na cabeça da classe política do mundo, é que, se tiver um remédio, as pessoas voltam ao trabalho.

É uma coisa para tranquilizar, para fazer voltar sem tanto peso na consciência. Se tivesse lógica de assistência, isso teria partido das sociedades de especialidades [não do presidente]. Por isso não tem gente séria que defenda um medicamento agora como panaceia.

O Donald Trump [presidente dos EUA] defendeu a cloroquina, mas voltou atrás e parou. Nos EUA, isso gera processo contra o Estado. Aqui no Brasil não, se morrer, morreu.

Para mim foi isso que fez com que o Teich falasse: ‘Não vou assinar isso. Vai morrer gente e ficar na minha nota’.

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