EU QUERO MEU DÉCIMO
Muitos acreditam que a gratificação natalina é mais uma jaboticaba. Coisa nossa, tupinambá, sem similar em outros países.
Até o Veep Mourão viajou nessa maionese durante a campanha. Para barões, liberais, coxinhas e endinheirados, apresentou sua ideia com palavras melíferas. Acabar seria bom para todos.
Só que não.
A marola deu onda.
Quando quase arrebentava na praia, foram salvos, ele e o capitão, pelo bispo.
O Adélio.
Tudo porque no mais rico, não há. Como não tem lá, licença-gestante nem férias remuneradas.
Estabilidade e FGTS, ainda esperam por Bernie Sanders.
Ou quem seja o primeiro number one socialista.
Lá os salários dispensam penduricalhos. E com menos impostos de Trump, a festa é deles e a inveja, nossa.
No pindorama, prometido por muitos, só entrou no bolso da plebe ignara no governo de Jango, em 1962.
Na época, empresários, prefeitos e governadores diziam não ter como pagar.
Antes, quem podia, não negava.
As festas. Uma gratificação de fim-de-ano.
Voluntária, a depender da generosidade dos patrões.
Ao lado de outras reformas simpáticas ao governo trabalhista, entrou na cota dos motivos para o golpe dois anos depois.
Refresco para as despesas da estação festiva, é o pagamento mais aguardado.
Diferente dos outros, não remunera diretamente o trabalho. Percebido como um extra, destinado ao supérfluo a ser gasto com coisas prazeirosas.
Direito sagrado, tão certo no fim do ano, quanto o show de Roberto Carlos, os bancos atendiam os ansiosos com a antecipação em troca de moderados juros. E podia-se fazer as compras dos presentes bem antes da Black Friday.
Como caloteiro não tem crédito, nem consignado é mais.
Nos tempos de inflação modelito argentino, para proteger o poder de compra, passou a ser parcelado em duas vezes.
A metade queimada já nas fogueiras juninas.
Recebido com tanta expectativa e privando da intimidade, passou a ser chamado carinhosamente de décimo.
Simplesmente.
Como um mimoso apelido familiar, fosse.
A saudade aumenta com a distância e o tempo.
Para quem não dá o ar da graça há dois anos, a vontade de recebê-lo só tem aumentado.
Para os menos validos, pensionistas e aposentados do estado, nada mudou.
Suplementação do orçamento parida, é tempo de espanar a poeira da caderneta dos haveres.
Depois de muitas reuniões, fóruns e o senta-levanta na mesa (e à mesa) de negociações, feitas as contas e os noves fora, restam três folhas atrasadas, a serem pagas.
Só não será um ano completamente perdido se o 11° do ano passado for pago, como anuncia o twitter da governadora.
Que em 2020, o governo seja maior que o departamento de pessoal.