28 de março de 2024
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EXCELENTÍSSIMA SENHORA NOTÍCIA

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Em tempos de relatos apavorantes e estatísticas desanimadoras, tudo que se quer é uma notícia boa.

Mais ainda se for uma excelentecomo anunciou que logo mais daria, depois da reprise da novela, a mocinha do telejornal.

Um alento para quem faz o maior esforço para não lembrar que sabe muito bem que o perigo que o mocinho está passando, no que seria seu último suspiro, vai ser resolvido.

E que no final, será feliz para sempre ao lado da amada e da fieira de filhos que só irão aparecer no último episódio, nas cenas que apressam o calendário, para anos depois.

Inevitável comparação.

Qual folhetim lacrimoso acaba antes, o da telinha ou o dos pagamentos esquecidos?

Não é que a eufórica repórter mascarada, com toda a alegria acumulada que os acontecimentos do dia a dia nunca mais deixaram externar, anunciou que a fada madrinha da felicidade estava prestes a bater à porta dos servidores estaduais?

Jantares foram servidos frios para que não se perdessem os mínimos detalhes do aviso mais esperado dos últimos dois anos.

Os mais emotivos e necessitados, sob risco de terem um quiprocó ou piripaque, afundados nos sofá das salas,  prontos para as alvíssaras.

Olhos enevoados, atentos; ouvidos quase moucos, aguçados; corações desamados, a mil.

Mal terminou a vinheta inicial, a anchorwoman fez crescer ainda mais a expectativa.

O comunicado arrasa-quarteirão seria feito pela própria governadora do estado, em sonora exclusiva.

A mulher que guarda  a chave do cofre e que na campanha eleitoral dizia saber a fórmula que seu adversário nunca havia aprendido, por nunca ter tido o azar de ser da oposição vigilante.

No governo da primeira no gênero, de origem popular, nenhum servidor reclamaria mais de salários em atraso.

Com o semblante fechado, de quem deve muitas horas de  sono por tantos problemas enfrentados no combate à pandemia, a declaração foi deveras e cruelmente frustrante.

Entre os exatamentes de uso frequente, exatamente o que se queria ouvir, não foi falado.

Datas. Logística.

Dia D. Hora H.

As duas folhas salariais continuam onde sempre estiveram.

Longe das contas-salários dos barnabés.

Difícil, o entendimento da descrição do laborioso parto.

Como se uma donzela semi-virgem tivesse parido uma parte da criança e o resto do feto permanecesse retido sem data certa, nem provável,  de entrar em período expulsivo.

Como boa madrasta, a tuxaua de tapuios, potiguares e outras tribos mais aculturadas, prometeu não abandonar o filho que não gerou.

Não negou a dívida mas fez questão de registrar a paternidade irresponsável do antecessor.

Não teve, no precioso e limitado tempo do horário nobre, chance para expor os números surpreendentes da arrecadação, aumentados na  crise.

Nem de somar os recursos extras recebidos do governo federal para o enfrentamento da doença e de calcular a redução do custeio da máquina do governo com despesas correntes.

Prometeu meses auspiciosos.

Maio. Por certo, vai ser de  confirmar festa de casamento.

Novembro. Se fizer bom tempo na primavera.

Quem serão os primeiros bafejados pelos ariscos contra-cheques, é mistério que a Profª Fátima não revela.

Resumo do dramalhão:

Deve, nunca negou.

Paga o mês que ainda não terminou, se tirar alguma sorte grande, acertar na milhar, ou quando mandarem,  de novo, o auxílio-capitão.

Não falou, mas deu a entender que está tão satisfeita quanto a apresentadora da TV, com o próprio desempenho.

Aposentados e pensionistas, ansiosos, aguardam as emoções dos momentos decisivos dos próximos capítulos.

Quem sabe, não vem por aí, mais um campeão de audiência e uma excelentíssima senhora notícia.

De verdade.

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