24 de abril de 2024
Coronavírus

FALSOS BRILHANTES

 

Retrato de Vincent Van Gogh, por Oleg Shuplyak, pintor surrealista ucraniano, contemporâneo


O filtro do tempo demonstra, o  que ocorreu de abril a outubro do ano passado, nas tardes de terça à quinta na arena da CPI do
Senado, tem explicação na Psicologia.

Uma teoria, há mais de 20 anos circulando em ambientes acadêmicos,  entrava em todos os cérebros e casas, nas ondas amigas dos noticiários de TV e nas discussões, nem sempre amistosas, dos grupos de relacionamento digital.

O  interesse em entender aspectos técnicos da maior crise sanitária, as restrições impostas e o instinto de sobrevivência, fizeram surgir especialistas em tudo que pode ser relacionado a contágios, contaminação, medidas protetivas e projeções da evolução dos números de atingidos.

Alguns disputavam espaços com experts em economia e política, levados a dar opinião sobre absolutamente tudo, incluídas matérias que não constam dos seus currículos de provas e pomposos títulos.

As pessoas mais comuns perceberam como é fácil opinar sobre qualquer assunto, quando todos fazem o mesmo.

O importante é defender os pontos-de-vista e ideias próprias, com unhas, dentes, convicção e fé inabalável.

Se o censo do IBGE não houvesse sido adiado, teríamos a certeza que já éramos mais epidemiologistas que técnicos de futebol.

O conhecimento passava a ser  construído no pandemônio da overdose de informações, proficiência, interesses inconfessados, desvios da verdade e fakenews, sob a  nova grade curricular do curso de sobrevivência da universidade da nova vida.

Os mesmos psicólogos que receberam o Prêmio igNobel em 2001 estavam de novo em evidência, de volta ao centro das discussões, com a plena aceitação do trabalho original:

Desqualificado e inconsciente: como as dificuldades em reconhecer a própria incompetência levam a uma autoavaliação inflada.

O laurel conferido pela revista de humor científico Anais das Pesquisas Improváveis, que reconhece e premia  as conquistas e trabalhos que primeiro fazem as pessoas rir e depois as fazem pensar, é a prova maior que a teoria constatada, há muito deixou de ser motivo de riso:

Quanto mais ignorante em um determinado assunto, mais confiante a pessoa pode se sentir ao opinar sobre ele.

O efeito Dunning-Kruger é que faz um indivíduo com pouco conhecimento sobre um tema, se convencer que sabe mais que os outros, mesmos os mais preparados.

São incapazes de reconhecer os próprios erros pela incompetência no auto-julgamento.

A superioridade ilusória demonstrada por detentores de cargos de prestígio chega a ofuscar os mais capacitados, permitindo que prevaleçam os impostores.

A CPI da Cloroquina, observada à distância de um ano, revelou um personagem que bem podia ter saído das estórias do conterrâneo João Ubaldo Ribeiro.

Afastado da cátedra  e da prática médica há mais de 30 anos, um senador tornou-se fonte de informação e referência para jornalistas que avaliavam seu cabedal científico por uma  pergunta sobre  a diferença entre protozoários e vírus e a  capacidade de ler bula de vacina.

 

Ruy Barbosa (1849-1923)

 

Notas do Redator

O efeito Dunning-Kruger foi apresentado neste TL, em junho de 2021

O senador Otto Alencar é candidato à reeleição, liderando, com folga, as pesquisas eleitorais.

A foto do outro senador baiano entrou de gaiata no textículo.

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