19 de abril de 2024
Coronavírus

GASES PERIGOSOS

Vincent van Gogh – Retrato de Dr. Gachet (primeira versão, 1890) – Coleção particular


Regra n° 7 do inédito
Manual-do-Aprendiz-de-Cronista-do-Cotidiano-para-Autodidatas:
“Se não tens um texto melhor, republique o de dois anos passados.”
Mas observe sempre se o assunto continua atual.

O AROMA ESTÁ NO AR

Basta um sopro para começar uma desavença.

Há palavra mais bonita que espírito?

No sentido de sopro, foi sendo empregada e difundida, até que chegou a vez de especificar, quando acompanhada de mau cheiro.

Daí pra frente, ganhou vasta sinonímia.

Tem até nome metereológico, que em inglês é poesia pura,breaking wind’. Vento quebranto.

Em respeito ao leitor de memória olfativa  mais sensível, na narração dos acontecimentos, adotaremos o nome de uso infantil.

Corria mais uma discussão científica online, no isolamento do início da pandemia, e bastou um pum, dos que os  palhaços soltam, pra causar um alvoroço daqueles  que José Ary, narrador esportivo da TV Universitária,  descrevia como  ** de asno, na entrada da grande área.

O foco da Ciência foi desviado dos estudos italianos que classificavam a Covid-19 como doença vascular, de tratamento com anticoagulantes, para outros tubos.

O microbiologista, professor adjunto, semi-aposentado como todos no grupo de médicos no WhatsApp, resolveu atualizar os colegas da turma de 1977, com suas últimas pesquisas, puxando brasa para sua piaba, pescada no açude de Florânia.

O coronavírus não só transita por todo trato digestório, de uma à outra boca, como pode ser transmitido pelos gases expelidos pela aboral.

Antes que a discussão caminhasse para definir se  as cuecas continham a difusão gasosa ou se no próximo decreto da Governadora  de Fátima, já deveria vir a proibição das calcinhas de renda, alguém de bom senso pediu para o termo ser corrigido, ou abrandado, para o latino flatus.

Contaminado nos brios, o belicoso mestre discorreu com a didática que lhe é peculiar, sobre regurgitações, eructaçoes, náuseas, vômitos, até chegar à palavra proibida pela administradora do grupo, pediatra, seguidora da escola onomatopéica.

Todos ficaram sabendo que a eliminação anal dos gases, tem classificações.

Quanto à sonoridade, vão dos silenciosos (nos elevadores) aos barulhentos, gaiteiros.

Ninguém sabia era que uma pessoa adulta carrega nas suas entranhas, 7,5 litros de gases variados. E elimina, em média 1,5 em dez a vinte aromáticas prestações ao longo do dia.

Além dos poluentes, metano, enxofre e carbônico; os nobres, oxigênio, hidrogênio e nitrogênio.

Não ficou claro se estes se misturam aos 184 outros tipos odoríficos provenientes dos alimentos e bactérias, que constam do trabalho completo, apresentado em resumo, para o público leigo no assunto.

Uma preocupação maior  eclodiu ao ser  informado o enorme volume eliminado, sem que seja percebido.

Seríamos todos portadores sãos, transmitentes da virose destruidora?

Alguém questionou se há treinamento para transformar todos eles em imperceptíveis.

Foi recomendado consultar a biblioteca do Palácio de Buckingham.

Como os smartphones ainda não teletransportam perfumes, a paz voltou a reinar, inspirando (ou será, aspirando?) um dos muitos declamadores da turma.

O VALOR DO PEIDO

O peido de um general não pode ser comparado com o peido de um soldado

Que em tudo é desigual

Tem gente que peida mal, há outros que peidam bem

Eu não conheço ninguém que ainda não tenha peidado

Mas o povo não tem dado, o valor que o peido tem.

  -Celso da Silveira 

(1929/2005)

 

Vincent Van Gogh – Retrato do Dr. Gachet (segunda versão, 1890) – Museu de Orsay, Paris

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