19 de abril de 2024
Coronavírus

IN VINO VIRUS

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Quando não existe um só remédio, centenas tratam uma mesma doença.

Tem sido assim com a da vez e dos milênios.

No mundo todo, enquanto não surgir a vacina salvadora, vai se tentar de tudo.

Não só os moderníssimos moduladores imunológicos, emprestados dos tratamentos de doenças crônicas e cânceres.

Medicamentos do arco da velha são lembrados. Alguns deles empolgaram tanto que contam com os melhores garotos-propaganda que se possam imaginar.

Estão nas manchetes de jornais e chamadas dos noticiosos em todas as línguas e sotaques.

Pela primeira vez na história da farmacopeia, uma droga entrou numa guerra política, com verdadeiros exércitos se digladiando nos campos de batalha das redes sociais.

Quando esta página da história for virada, saberemos porque e como  dois ministros da Saúde foram abatidos pelo fogo amigo.

Cientistas, estudiosos e palpiteiros têm todo o direito de defenderem os seus produtos. Não há tempo de fazer as provas dos noves.

É tomar ou ser largado à sorte.

Do sempre presente chá de boldo ao anti-malárico, passando pelo lombrigueiro, a salvação está em todos os frascos. Até o que foi  usado no campo, no combate aos carrapatos do gado vacum e nos piolhos da criançada.

Pesquisadores do Vale do Curimataú desenvolvem estudos (estão na fase 2) para incluir no arsenal terapêutico, um coquetel de unguentos já em uso contínuo desde que chegou ao mercado farmacêutico, em 1885.

Há um século, passou por grande teste, se não de eficácia, de alívio. No combate à gripe espanhola.

Bálsamo, em forma de pomada, contém cânfora, mentol e óleo de eucalipto.

Mezinha tão antiga, deve ter o segredo na proporção dos seus componentes, já que não são conhecidos concorrentes nem formulações similares ou genéricos.

Com indicação inicial de trazer alívio para a tosse dos resfriados quando esfregado no peito das crianças, passou a ser usado também pelos adultos. Daí para chegar às narinas, foi palmo e meio.

Apesar da popularidade inabalável, depois de longos anos fora do receituário dos médicos, voltou à moda e às indicações.

É considerado excelente sedativo para o gôgo  persistente. Agora, com via de administração bem longe do aparelho respiratório. Deve ser espalhado, à noite, nas plantas dos pés,cobertos e aquecidos com meias de lã.

Os mecanismos de ação e interferência na fisiopatologia do novo coronavírus ainda não estão claros, apenas a fé inabalável dos seus usuários,  garante sua prescrição.

Em meados do século passado, Carluce Medeiros, o mais afamado boticário do agreste potiguar, mantinha uma  seleção de medicamentos para atender às urgências dos amigos no veraneio da Barra do Cunhaú.

Uma freguesa, das de caderneta, mandou o faz-tudo buscar o lenitivo que evitaria a noite mal dormida.

Apesar da insistência do portador,  Pedro Burranha, a receita oral não pôde ser atendida. Por ilegível.

Dona Joanita  está precisando de Vinho de Arapuruca.

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2 thoughts on “IN VINO VIRUS

  • Marcelo Leite

    Mais um texto ou ¨textículo¨ para ficar registrado nos anais. Genial!

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    • Domicio Arruda

      Amigo,
      Seus comentários são como cremásteres para meus textículos.

      Resposta

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