INCERTOS PAIS
Imunes aos decretos governamentais, os motéis continuaram em funcionamento discreto, durante as fases mais críticas da pandemia.
Embora as autoridades sanitárias tenham sugerido distância segura entre enamorados, ainda bem que nenhum luminar dos comitês científicos conseguiu provar a eficácia do uso de álcool em gel nos preservativos.
Nas longas filas de carros que se formarão hoje, sob as luzes de neon nas entradas dos ninhos de amor, uma dúvida continua a atormentar depois da overdose de epidemiologistas que brotavam nos noticiários de TV , falando de vírus, cepas, gráficos e variantes:
Por que não se formou uma nova onda baby booming, nove meses após a dose de reforço da vacina?
Nestes tempos de fertilização in vitro, só é filho sem pai, ou de chocadeira, quem quiser. Exames de DNA estão aí, mais acessíveis. Não é preciso nem recorrer ao Programa do Ratinho.
Um inglês descobriu ser infértil 20 anos depois do divórcio.
Tendo criado como seus, três filhos, foi diagnosticado com doença que implicava em infertilidade que nasceu com ele.
Foi à justiça, e conseguiu devolução de parte do acordo de separação, com correção monetária.
Mas ficou sem saber quem eram os fornecedores dos espermatozóides. Só a quase certeza de ser alguém muito próximo.
Nos Estados Unidos, país das estatísticas, 25% dos pais criam filhos sem nenhum vínculo genético. E não sabem disso.
Na dúvida, é melhor fazer como aquele chefe de família, que ao ser perguntado se quem o acompanhava, com sua cara, era seu filho, dava sempre desconcertante resposta:
Joanita, minha mulher, diz que é.
A paternidade nunca será uma certeza.
(Este texto faz parte de um estudo genético iniciado antes da pandemia, em 12/06/2019)