29 de março de 2024
Coronavírus

INTERMINÁVEL NOVELA

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Escadaria Bramante – Museus do Vaticano


Todos lembram do que fizeram no verão passado. E em outros verões.

Para ser fiel ao que se passava há um ano, enquanto a primeira onda se formava no horizonte, trazida por ventos de Espanha e Lombardia, vale o escrito e o publicado naquela época.

A vacina era peça de ficção, com  estreia prevista para uma década à frente, segundo cientistas calejados  em outras viroses.

O isolamento e todos os demais prazos eram medidos em 14 dias. Necessários, científicos  e definitivos.

Às vésperas das mais animadas festas populares, era adiado o São João.

Com promessa de ser comemorado fora de época,  em um mês.

Mais tardar em setembro, aproveitando os feriados da semana da pátria.

A resignação com os sacrifícios era  esperança que depois da grande vaga, por mais que ficassem destroços na praia, o movimento das marés de lua traria a normalidade de volta.

Trinta 14 dias se passaram e estamos de novo olhando pro mesmo mar aberto, agora vestidos com coletes que salvam vidas.

E recontando a mesma estória que será repetida tantas outras vezes.

Para descrever a  passagem da pandemia pelo Brasil, nada melhor que uma telenovela.

Drama, ação, intrigas, um toque de realismo fantástico e muito mistério.

O que todos queriam saber, para dar um fim ao indesejado folhetim, era quando acabaria a quarentena.

Na vida real, a pergunta se renova, sem resposta.

Ainda teremos vida normal?

Em lugares onde  a fera aparentemente foi domada, o distanciamento  compulsório acabou. Sem terminar.

Para quem achava, que seriam, ao pé da letra,  40 dias, ficou  frustrado nos 80, conforma-se com 400 e agora, cisma que de 800 deve passar.

A duração do recolhimento é como juros do cartão de crédito. O freguês quando acha que acabou de pagar, começa tudo de novo. São outros quarenta sobre os quarenta quitados.

Com a perda de credibilidade das projeções matemáticas, cada um passou a fazer os próprios cálculos. E tratar de reaprender rezas já meio esquecidas.

Não se pode deixar de equiparar o que nunca vem,  com as promessas de políticos.

A miquelina ponte Natal-Noronha e outras faraonices de véspera de eleição.

A comparação do radialista Franklin Machado foi o desenho mais fiel.

Por dever de ofício, quem fala  na latinha, deve entender de tudo. Do alfinete ao avião, como todo pós-graduado na Mesbla.

E não é que o locutor que nos fala, assemelhou o tempo de espera às últimas semanas do Le Cirque?

Houve quem recordasse de quanto levou o elefante branco do Tirol para ser batizado. E o tanto pra começar a atender pelo vulgo de Walfredo.

Não caíram no esquecimento as doações, quermesses, procissões e bingos até que a primeira missa benzesse a catedral nova.

A novela, assistida pelos olhos dos protagonistas, só entraria nos últimos capítulos quando a quarentena pegasse o beco.

Mas até aqui, têm sido outros quarenta.

E esta estória que não tem fim.

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