IRREFUTÁVEL SOLIPSISMO
Das criadas pela inteligência dos humanos, respeitadas crenças no sobrenatural, a internet é a entidade que mais modificou valores, costumes e a vida das pessoas.
Ocupando o etéreo território da blogosfera, tem respostas para tudo e lugar para qualquer e todo tipo de assunto.
Uma plataforma em particular, tem atraído curiosos e insatisfeitos com as explicações das enciclopédias digitais tradicionais, as mais acessadas.
Lá está localizada a sedutora aldeia onde habitam as soluções para todas as dúvidas e incertezas.
Quora, a meca do saber, é a esfinge que decifra tudo e não devora ninguém.
Aberta, acessível sem restrições, gratuita.
Funciona com regras simples.
A pergunta é postada e quem souber a resposta, escreve o que bem entender.
Não há filtros, nem censura.
São os próprios usuários que fazem a edição.
A questão é saber quem responde.
Pode ser um expert no assunto.
Ou um farsante a se divertir com a ignorância alheia.
As opiniões não garantem a confiança no material.
As bios ajudam.
Os microcurrículos identificam os saberes e dão peso aos esclarecimentos.
Pode vir de um professor, na maioria ex, um curioso, um físico, estudioso ou até um presidente da maior potência do mundo, depois de deixar o poder e perder seu batalhão de assessores que de tudo sabem um muito.
Os filósofos escolheram o pedaço, a praia onde mergulham no oceano do conhecimento, em busca dos tesouros afundados com os galeões que carregavam os segredos da vida.
Alguns exageram, como à procura de pergunta sem resposta, estivessem.
A uma delas, poucos reagiram, deixando a interrogação solta no ar, sem teto para pousar na pista da Filosofia.
–O Solipsismo é realmente irrefutável?
O que acham os queridos leitores?
Se a realidade está mesmo reduzida ao indivíduo que pensa, se o que importa são as próprias sensações, se os outros são meros coadjuvantes sem existência própria, é de se concluir que não deveria restar uma única dúvida. Muito menos, em tela de smartphone.
Doutrina filosófica sem patronos, é incrível que o Solipsismo tenha sobrevivido desde os tempos pré-socráticos, sem discípulos que a pudessem transmitir às próximas gerações.
Praticada por monges, monjas e monjes em suas clausuras, é de se pensar que também tenha adeptos vagando pelas ruas, vivendo de esmolas ou presos por trás das grades das drogas alucinógenas ou confinados nos pavilhões dos nosocômios psiquiátricos .
Não é difícil a identificação do brasileiro solipsista que foi mais longe.
O mais bem sucedido e poderoso.
Depois de 29 anos isolado na bancada do fundão, deu um único salto solo e sem o paraquedas de um partido político de verdade, aterrizou no planalto central, na selva repleta de lobos vorazes.
Fechado em si, não muda convicções nem admite pensamentos divergentes.
O que bem explica o número de auxiliares descartados.
Nunca escondeu o desejo de ser o único a ditar regras e condutas.
A Ciência, não aceita.
O que vale é a obstinada ideia fixa das soluções mágicas e o credo que tudo é natural, a ser resolvido pelo tempo, independente do preço pago em sofrimento e mortes.
Quem se considera ungido por Deus, sempre estará preso na solidão.
Edvard Munch