19 de abril de 2024
Memória

LEMBRANÇAS DEMOLIDAS

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Kasteel Keulen – Frans Post (1638) – Museu do Louvre, Paris

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Há dois anos, os hóspedes do passado fizeram o último
check out no majestoso hotel em ruínas, na beira da praia.

Na terra dividida, estava chegando ao fim, um longo espetáculo de pastoril.

Que daquela vez, havia dispensado a diana.

Xarias e canguleiros, exaustos da batalha arquitetônica, não sabiam que já fazia trottoir no calçadão, uma força mais destruidora que as bulldozers da prefeitura.

A edificação, às quedas, tal muitos saíam das suas boates nas altas horas, apesar de valiosa e ter dono, há muito estava abandonada.

E como qualquer achado não é roubado, quem encontrava nela,  alguma serventia, fazia bom, ou mau, uso.

Para muitos, sem outro teto, abrigo do sol, da chuva e dos ventos das madrugadas frias, o último refúgio.

Para os mesmos e assemelhados, área livre para atividades proibidas em outros lugares.

Continuou ninho de amor, como no passado, dizem, foi dos figurões e suas companhias importadas a preço de vaca holandesa.

Na Londres Nordestina, uma réplica de Cristiânia, território livre, sem lei e alguma ordem, de Copenhague.

Mesmo quem nunca  passou além da calçada, sentia-se um pouco dono daquele pedaço infeliz.

Construído pelo governo, com dinheiro público.

Dos impostos tupiniquins. Ou cherokees.

Suados, ou da Aliança para o Progresso, não importa.

Nossa grana.

O descaso virou vergonha para ser escondida dos visitantes.

E comparação inevitável com outras orlas melhor  cuidadas, na Miami das Areias Pretas.

Reminiscências.

Procurando sempre se encontra.

Dos frequentadores saudosos.

Dos antigos funcionários.

Das noivinhas.

Dos leitos nupciais.

Dos embalos dos sábados e de todas as noites.

Das festas do Havaí, muito antes das no Tahiti, nunca chorado para tombamento.

Dos potentados, e das celebridades.

Dos craques do futebol, e seus autógrafos.

Dos bailes de alegria e esplendor, das jovens misses que seus estados representavam, em desfile.

Dos escroques só revelados depois, na última página do Diário.

Até do frangote, adolescente, púbere, recordando as melhores manhãs de domingo de sua vida, na piscina mais bonita do mundo.

No futuro, esta história haverá de  ser preservada em fotos nos salões de um  Grande Hotel Albergue da Juventude, na sempre prometida Ribeira renovada.

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A Adoração dos Magos (1486) – Sandro Botticelli – Galleria degli Uffizi, Florença
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2020
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Hotel Internacional dos Reis Magos – 1965

 

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