LEMBRANÇAS DO SUPER MÁRIO
O necrológio traz recordações.
É tempo de fazer contas e retroceder o calendário.
Passados quase 40 anos.
Mossoró em ebulição pelo petróleo que começava a ser explorado e com vocação para Dallas do semi-árido, atraía empreendedores. Destino de quem sonhava em ter uma oportunidade para desenvolver o potencial. Em qualquer profissão.
No período gestacional dos planos de saúde, o SUS, ainda não totalmente unificado, era só para quem estava estabelecido desde o finado INAMPS.
O mercado reservado, deixava poucas opções para quem procurava furar o cerco para entrar no restrito círculo dos médicos bem sucedidos.
A mais próspera experiência da medicina popular, exclusivamente privada, data desta época e deve-se à Policlínica Médica de Mossoró e ao seu fundador.
Criação de quem observou a cadeia produtiva e concluiu que um laboratório de análises clínicas teria muito mais movimento se mais fossem os médicos a solicitar exames.
Agregou consultórios ao empreendimento inicial, comprovando a intuição que anos depois seria batizada de verticalização dos serviços de saúde.
Antes que a primeira cooperativa de médicos começasse a atuar, já havia oferecido à clientela um modelo de fidelização.
Pelo pagamento de uma módica anuidade, sem carência alguma, o freguês tinha direito a ser atendido por especialistas, a preços abaixo dos cobrados nas clínicas particulares. Além do acesso a todos os exames por tabela simplificada e acessível.
À fé em Nossa Senhora dos Impossíveis que trouxe de Patu, associou tino comercial e visão de negócios para garantir o sucesso que passou à nova geração de filhos e sobrinhos.
O médico recém chegado, se de especialidade que não conflitasse com a de colega antes acolhido, recebia um consultório para uso exclusivo.
Não havia compartilhamentos, independentes dos horários utilizados, nem pagamento algum pelo aluguel.
Nem despesas com atendentes e obrigações trabalhistas.
O único dispêndio era com a energia elétrica.
Um medidor de luz instalado em cada sala evitava que os aparelhos de ar condicionado permanecessem ligados a noite toda, garantindo o frio nas manhãs quentes do sertão.
Farmacêutico e Bioquímico por formação acadêmica, se intitulava, Analista.
Muito cedo, perdeu a intimidade com provetas, tubos de ensaio e almofarizes.
Analisava a economia do povo humilde e sabia como as riquezas circulavam, observando o dinheiro ser trocado de mãos e bolsos.
Contam que certa vez, a dúvida transformada em aposta, foi tirada com um telefonema.
O pedido de informação do médico com fama de bem atualizado, foi respondido sem hesitação.
Exame de reação de Ho Chi Minh eram entregues no mesmo dia.
E realizados já há vários anos. Antes mesmo do início da Guerra do Vietnã.
Acompanhou a evolução da tecnologia médica.
Quando percebeu que exames de ultrassonografia tinham vindo para ficar, estimulou um médico associado a fazer o treinamento básico e comprou o equipamento para dividirem o lucro.
Enquanto aguardava a instalação, a enorme caixa do aparelho ficou exposta, estacionada no hall de entrada.
Ao lado, o investidor explicava aos curiosos, do que se tratava.
Até que línguas ferinas ou estratégia do concorrente, fizeram circular o comentário que era modelo ultrapassado, máquina recondicionada.
Logo, uma enorme placa foi colocada sobre o aviso de Cuidado, frágil.
Ultrassom novo. Último tipo.
Mário Vale é um daqueles tipos inesquecíveis, dignos de figurar nas Seleções do Reader’s Digest.
O comentário sobre o Dr. Mário Vale, valeu, muito bem posto. É muito oportuno escrever sobre figuras como ele. Não se pode deixar numa gaveta emperrado o que se pensa sobre figuras como ele. Valeu!!!